Para ligar ataque a Bolsonaro ao PT, Folha faz matéria omitindo que Juiz de Fora nunca teve prefeito petista. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 9 de setembro de 2018 às 20:56
Juiz de Fora nunca teve um prefeito petista

 

Na ânsia de vincular o agressor de Bolsonaro ao PT, a mídia produz canalhice de alta, baixa e média octanagem.

A Folha de S.Paulo inventou uma matéria intitulada “Cidade palco de ataque a Bolsonaro tem tradição de apoiar PT”.

Adélio Bispo de Oliveira — de resto, um desequilibrado — torna-se petista por associação.

“Desde 1998, a escolha majoritária nas urnas do município de 516 mil habitantes é uma só: o PT”, diz o texto.

“Foi assim com Lula de 1998 a 2006 —ele chegou a atingir 83% dos eleitores contra José Serra (PSDB) em 2002— e continuou com Dilma em 2010 e 2014, sempre em patamares acima de 60% no segundo turno.”

Essa formulação vale para trezentos outros municípios. 

O que se quer com isso é ajudar o coitado do leitor a juntar lé com cré e tirar uma conclusão falaciosa.

Um cientista político e uma feminista se encarregam de emprestar argumentos para a tese.

“É um movimento poderoso, do ponto quantitativo e simbólico de vocalização”, afirma Paulo Roberto Figueira, da Universidade Federal local.

Uma informação importante é dada de maneira marota ali no miolo: “Nas últimas três eleições para prefeito a candidata do partido, Margarida Salomão, foi derrotada nas urnas por opositores de PSDB e MDB”.

A verdade é mais simples: a “petista” Juiz de Fora nunca teve um prefeito do PT.

Ora, como é possível, dada a quantidade de esquerdistas infiltrados ali?

Desde 1983, porém, houve três do PMDB e mais três do PSDB.

A Folha de S.Paulo é também o jornal mais lido de Juiz de Fora.

O que isso significa? Nada. Ou tudo, dependendo do grau de desonestidade intelectual.

ESCLARECIMENTO

Fiquei bastante chocado com o tratamento a mim dispensado numa matéria publicada por vocês hoje. Entrevistado pela Folha de S. Paulo, numa reportagem sobre o perfil político de Juiz de Fora, foram-me perguntadas duas coisas:

1) Se o movimento estudantil na cidade era forte. Respondi que sim, há uma longa história de luta estudantil e organização dos estudantes na cidade. É fato. A cidade por acaso deveria se envergonhar disso? Há muitos estudantes (logo, o movimento é relevante quantitativamente), ele ocupa um papel relevante no simbolismo da cidade quanto a seu progressismo e é um importante vocalizador de valores políticos progressistas. Não vejo por que essa informação, assim colocada, deveria ser tratada por vocês como “frase mais oca que a cabeça de um bolsominion”.

​2) Se a votação na cidade vinha, nos últimos anos, apresentando um padrão. Respondi que sim, em eleições presidenciais (o que é fato, em função de repetidas vitórias do PT), mas não em relação à política local (o sucesso do PT não se reproduziu em vitórias na disputa pela prefeitura e eu disse à Folha  que, nesse nível, a dinâmica no município tem se articulado muito mais em função de lideranças do que de partidos). Mais uma vez, trata-se de fato. 

Paulo Roberto Figueira Leal (UFJF)