Para não esquecer jamais. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de maio de 2020 às 21:02

Publicado originalmente no blog do autor

Os brasileiros poderiam copiar e admitir que copiam o que uruguaios e argentinos fazem com criatividade para lembrar sempre, mesmo em meio a uma pandemia, que um dia foram submetidos a ditaduras.

Hoje, é o Dia do Silêncio no Uruguai, e daqui a pouco as pessoas sairiam às ruas de Montevidéu carregando retratos de assassinados pelos ditadores e que são considerados até hoje como ‘desaparecidos’.

Com a clausura, que impede a realização da passeata, disseminou-se pelo país o Dia do Silêncio virtual. Na semana passada, o semanário Brecha antecipou a marcha e colocou em sua capa as fotos das vítimas dos militares.

Hoje, o Plenário Intersindical de Trabalhadores-Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT), que vem a ser a central sindical deles, divulgou essa imagem poderosa, que está na capa do jornal La Diária.

A central colocou sobre as cadeiras, no auditório da sua sede, os retratos de 197 desaparecidos, mostrados por familiares, com a frase ao fundo que exalta: memória, verdade e justiça.

É dali da sede da PIT-CNT que saem muitos dos que participam da Marcha do Silêncio todos os dias 20 de maio. Em 1973, a ditadura prendeu e sumiu com 18 líderes sindicais, que nunca mais foram localizados.

Hoje, no centro de Montevidéu, uma área teve o asfalto pintado com marcas de pés no chão, para mostrar que, mesmo simbolicamente, a marcha acontecerá agora à noite. Ao fundo, dependurados num varal, aparecem retratos de desaparecidos.

Parques e praças foram ornamentados com margaridas de papel. Os uruguaios não saem atrás de pretextos para não fazer o que fazem há 25 anos.

E no Brasil? Aqui, nós debatemos a ocupação do Ministério da Saúde por uma tropa de choque do Exército.