“Para o Papa, julgamento de Lula é político por causa da não presunção de inocência”, diz ao DCM pastora que visitou Francisco

Atualizado em 3 de agosto de 2018 às 21:25
Marinete da Silva, Carol Proner, o Papa Francisco, Paulo Sérgio Pinheiro e Cibele Kuss

A pastora luterana Cibele Kuss foi a Roma para um encontro com o Papa Francisco acompanhada por Marinete Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, a advogada Carol Proner e o ex-ministro dos Direitos Humanos do governo FHC, Paulo Sérgio Pinheiro.

Representando o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e a Fundação Luterana de Diaconia, Cibele conversou com o Santo Padre sobretudo a respeito da religião após o golpe.

O DCM falou com Cibele Kuss:

DCM: Como foi o encontro com o Papa Francisco? 

Cibele Kuss: O encontro foi bastante emocionante e repleto de temas plurais, apesar dos tempos difíceis que vivemos. O que mais conversamos foi sobre a agenda dos retrocessos e retiradas de direitos sociais do atual governo, bem como o processo jurídico e político controverso do golpe e da prisão do Lula.

Eu levei uma pauta sobre a intolerância religiosa presente no nosso país e como isso se intensificou no período pós-golpe. Falamos sobre fundamentalismos e a conexão entre lideranças religiosas brasileiras com o agronegócio. O próprio processo de impeachment da ex-presidente Dilma veio acompanhado com um discurso religioso muito forte.

Tirada ela da presiência, vimos o aumento da violência contra índios, na perseguição dentro de reservas. Mas, mesmo com essa vulnerabilidade política, existe resistência.

Há, sim, evangélicos que são contra o golpe, sofrendo represálias dentro das próprias igrejas. O melhor método de impedir essa repressão é mapear melhor os grupos conservadores. Eles obedecem ao Deus Mercado, que é usado para perseguir indígenas e religiões de raízes africanas. Por isso mesmo, as análises progressistas não podem ter o preconceito como base, porque o neopentecostalismo não pode ser visto como uma coisa homogênea ou uniforme.

O Papa se manifestou sobre a perseguição a outras religiões?

Sim, e falamos sobre isso lá. Existe uma falta de manifestação de solidariedade dos neopentecostais no Brasil com outros círculos religiosos. De dentro das igrejas, recebemos represálias de grupos conservadores por manifestar solidariedade com outras religiões que são reprimidas.

O que o Papa falou sobre Lula?

Ele manifestou preocupação com as questões que envolvem os golpes em geral na América Latina, considerando o que ele presenciou na ditadura da Argentina. Para ele, a não presunção da inocência é vista como um julgamento político. O diálogo dele foi grande com a Carol Proner nesse sentido. E ele elogiou muito a presidenta Dilma.

Como assim?

O Papa gosta muito dela. Disse que a encontrou em três ocasiões. Considera ela uma amiga e uma pessoa muito honesta.

Outros assuntos foram tratados?

A presença da Marinete da Silva, a mãe de Marielle Franco, incluiu a pauta sobre a violência absurda que hoje acontece no Rio de Janeiro sob esse governo golpista. O Papa manifestou solidariedade com os problemas brasileiros.