Para tentar livrar Heleno de trama golpista, testemunhas dizem que Bolsonaro se afastou do general

Atualizado em 27 de maio de 2025 às 8:12
O general Augusto Heleno e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília. Foto: Pedro Ladeira

Testemunhas do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, afirmaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se afastou do general na segunda metade de seu mandato.

As declarações foram feitas no contexto da investigação sobre a trama golpista de 2022, envolvendo Bolsonaro e seus aliados, com a corte retomando nesta segunda-feira (26) as audiências de instrução do processo.

A defesa de Augusto Heleno apresentou a informação como parte de sua estratégia para distanciar o general das alegadas tratativas para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as quais teriam se intensificado após a derrota de Bolsonaro para o petista nas eleições de 2022.

O capitão-de-mar-e-guerra Ricardo Ibsen Pennaforte de Campos, ex-chefe de gabinete de Heleno, afirmou que observou uma diminuição nas reuniões entre o general e Bolsonaro a partir da segunda metade do mandato.

“Sim, observei que houve [diminuição de reuniões entre Heleno e Bolsonaro]. Posso colocar metade do mandato, não sei precisar o momento, mas houve menor participação do ministro no gabinete da Presidência do que na primeira metade”, disse ele.

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O general Augusto Heleno: testemunhas afirmaram que Bolsonaro se afastou do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Foto: Reprodução

Amilton Coutinho Ramos, ex-assessor especial de comunicação e imprensa do GSI, atribuiu o afastamento a questões partidárias.

“Houve essa diminuição e, pelo que testemunhei, foi a partir da filiação do ex-presidente ao PL. O general Heleno assumiu publicamente resistência quanto à corrente majoritária no Congresso Nacional, e então ele perdeu espaço na sala do presidente. E isso o general entendeu muito bem. Continuou despachando os assuntos apenas do GSI, apoiando o presidente, viajando, mas realmente houve esse afastamento”, afirmou.

Ramos também relatou que, embora o general defendesse o voto impresso, isso não fazia parte das discussões dentro do GSI.

Todas as testemunhas ouvidas afirmaram ter trabalhado diretamente com Heleno e relataram que ele ordenou que a transição de governo seguisse normalmente após a derrota de Bolsonaro nas eleições. Além disso, mencionaram que o general manteve pessoal dos governos anteriores nos quadros do GSI e nunca tratou de qualquer minuta de golpe ou politizou o órgão.

Augusto Heleno faz parte do grupo que, ao lado de Bolsonaro, foi classificado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como crucial na articulação da tentativa de golpe. Além deles, também integram o “Núcleo 1” Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos, Anderson Torres, Braga Netto, Mauro Cid e Paulo Sérgio Nogueira.