Para tirar Bolsonaro rapidamente, basta Augusto Aras cumprir seu dever e denunciá-lo ao STF. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 27 de março de 2020 às 9:06
Jair Bolsonaro, Augusto Aras e Sérgio Moro. Foto: Agência Brasil

Jair Bolsonaro foi para tudo ou nada e, nessa disputa com os governadores pelo poder, ele coloca em risco a vida dos brasileiros.

Ontem, a Secom, responsável pela propaganda do governo, iniciou a campanha “O Brasil não pode parar”.

Logo em seguida, Flávio Bolsonaro, que deveria estar preso, usou sua rede social para divulgar um vídeo aparentemente preparado pelo governo, pois tem a marca e slogan oficiais – “Pátria Amada Brasil”.

Na peça publicitária, aparecem pessoas pobres em feiras e outro tipo de comércio de rua. É um convite para que a população abandone a quarentena e volte ao trabalho.

Bolsonaro também postou o vídeo de uma carreata que desafia o governo do Estado de Santa Catarina, simbolizando a volta de Camboriú à normalidade.

Ele também postou o vídeo de um empresário de terno e gravata que está com pressa para voltar a ganhar dinheiro, e ataca os governadores.

“Epidemia é o cacete”, diz o irresponsável, que precisa ser identificado para que seja processado e, eventualmente, preso.

No final do vídeo, ele faz expressão de choro, sem que uma lágrima seja derramada.

Bolsonaro, que vem perdendo apoio na rede social, aparentemente tenta mobilizar a parcela do Brasil que lhe deu visibilidade na última campanha eleitoral.

Pelo vocabulário, é fácil reconhecer essa gente: é ignorante, alguns ricos, e extremamente violenta.

É o exército da barbárie que Bolsonaro representou na campanha presidencial.

O Brasil que já foi civilizado precisa enfrentá-los, a começar por Bolsonaro.

Não é hora de fazer cálculos políticos, como alguns que dizem ser incompatível lutar contra o coronavírus e, ao mesmo tempo, contra Bolsonaro.

Não será possível vencer o vírus com Bolsonaro na Presidência da República.

Se o procurador-geral, Augusto Aras, tivesse independência, Bolsonaro deveria ser denunciado por crime contra a saúde pública.

Aí a saída dele seria rápida.

A Câmara dos Deputados se reuniria e, com a aprovação de dois terços dos parlamentares, aprovaria o início do processo.

Bolsonaro teria que deixar o cargo imediatamente.

Mas é difícil que isso ocorra, tendo em vista que Augusto Aras foi indicado por Bolsonaro com a anuência de Flávio Bolsonaro — que, repita-se, deveria estar preso por conta do que já se descobriu no inquérito sobre o caso Queiroz e por que, à luz do dia, tem tentado evitar que a investigação conduzida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro avance.

É razoável concluir que Aras está lá para blindar Bolsonaro e a família.

Porém, Aras deve se lembrar de que, para ser nomeado, ele teve seu nome aprovado pelos senadores.

Portanto, deve a eles também a condução para o cargo que ocupa.

Melhor seria que Aras considerasse como credor de uma atuação independente o povo brasileiro, representado pelos poderes da república.

Assim, em nome da saúde e bem-estar do povo, Aras deveria apresentar a denúncia contra Bolsonaro.

Seria uma forma de superar a turbulência política e deixar que o Brasil se concentrasse no combate à pandemia, como numa guerra, mas sem o traidor que ocupa a presidência da República.

De qualquer forma, se Aras não cumprir o seu papel, que o Congresso faça o seu, e abra o processo de impeachment contra quem ameaça a vida de todos os brasileiros.