
A recusa ao serviço militar em Israel é rara, mas não inexistente. Soul Tsalik, de 19 anos, passou três meses em uma prisão militar após se negar a ingressar nas Forças Armadas. Integrante da organização ativista Mesarvot, ele defende que o país precisa rever sua política de guerra e ocupação e que a comunidade internacional deve deixar de financiar os conflitos.
“Quero que o mundo pare de armar meu país”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo. O jovem explica que sua decisão foi tomada na adolescência, quando tinha entre 14 e 15 anos, momento em que começou a estudar história e política.
“Cresci em Jaffa, então estava familiarizado com a existência de árabes. Mais tarde descobri grupos contra a ocupação e sabia que não queria servir. Além disso, inglês é uma das minhas línguas maternas, porque minha mãe é americana, e eu comecei a pesquisar coisas em inglês. E quando você começa a aprender mais, isso te leva a um caminho diferente do esperado em Israel”, prosseguiu.
Na prisão, Tsalik enfrentou hostilidade, mas conseguiu desenvolver relações no período. Ele diz que não foi “espancado”, mas que conheceu pessoas que foram agredidas na prisão. Inicialmente, conta, era visto como “preguiçoso ou covarde” por outros presos, mas conseguiu convencer alguns de que o ideal era “lutar pela paz”.
Sobre a atual ofensiva em Gaza, ele não poupa críticas: “É inimaginável. É a pior coisa possível. É triste que as coisas tenham chegado a esse ponto para que Israel finalmente comece a olhar nos olhos o que está fazendo”.

Para ele, parte da sociedade israelense preferiu ignorar a realidade por causa da ligação histórica com o Exército e da propaganda que apresenta qualquer crítica como antissemitismo.
“Me surpreendeu ver como transformaram isso em uma situação preto no branco, como se fosse apoiar o Hamas ou apoiar cegamente Israel. Mas me animou ver o crescimento de movimentos judaicos e palestinos contra a guerra. Precisamos que esses países ajam e apoiem a paz”, acrescentou.
Para o jovem, o argumento de que parar de armar Israel colocaria os judeus em perigo é insustentável. Ele acredita que os judeus “estão em perigo por causa da guerra” e que o conflito não estaria acontecendo se o território palestino não fosse ocupado. “É o próprio Exército que cria os problemas que não consegue resolver”, criticou.
Mesmo após a prisão, Tsalik mantém esperança em uma solução de paz. “É impossível se livrar de cinco milhões de palestinos. Quanto mais tempo demorarmos, mais sofrimento haverá. Precisamos parar de financiar guerras e apoiar os direitos dos palestinos. Isso também é importante para os israelenses”, completou.