
Familiares de mortos na Operação Contenção, a mais letal da história do Brasil, relataram ter sido constrangidos por policiais no Instituto Médico-Legal (IML) do Rio de Janeiro, enquanto faziam o reconhecimento dos corpos, conforme informações da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
A Operação Contenção, realizada nos complexos da Penha e do Alemão, foi comandada pelo governo de Cláudio Castro (PL) e deixou 121 mortos, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio.
De acordo com a Defensoria Pública do Estado, agentes aproveitaram o momento de luto para colher depoimentos e fazer perguntas sobre o passado das vítimas. Mães, pais e companheiras foram questionados por policiais sobre se os mortos “trabalhavam”, “andavam em más companhias” ou “estavam envolvidos com o crime”.
Os defensores afirmam que os depoimentos foram colhidos enquanto os familiares aguardavam a liberação dos corpos, em meio a um ambiente de sofrimento e desespero.
O defensor público Pedro Carriello disse que os advogados intervieram no local e alertaram os parentes de que não tinham obrigação de responder. Após a conversa com os agentes, a abordagem foi interrompida. “Ali não é a hora e o local de tomar depoimentos”, afirmou.
“As famílias têm direito ao luto”
Carriello destacou que, mesmo que as pessoas quisessem falar, o momento era inadequado. “Por mais que houvesse voluntariedade, que as pessoas quisessem falar, o momento não era apropriado. As famílias têm direito ao luto”, afirmou o defensor.
Ele também lembrou que decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e de cortes internacionais já determinaram que, em casos de violência estatal, a própria polícia não deve conduzir as investigações, pois isso exigiria que agentes analisassem a atuação de seus colegas.
Segundo ele, os policiais poderiam apenas confirmar o grau de parentesco, endereço e documentos dos familiares — nada além disso.


