
O primeiro-ministro da França, François Bayrou, sofreu uma dura derrota política nesta segunda-feira (8), quando a Assembleia Nacional votou contra o seu Governo, derrubando-o após uma solicitação de voto de confiança. O objetivo da votação era garantir apoio para os cortes orçamentários propostos pelo Governo, que visavam à recuperação das finanças públicas do país. Com 364 votos contrários e 194 favoráveis, a queda do Governo de Bayrou se concretizou, marcando um capítulo turbulento na política francesa.
De acordo com fontes próximas ao primeiro-ministro, Bayrou deverá apresentar sua demissão já na terça-feira (9), após a votação na Assembleia Nacional. A crise política que resultou na derrubada do Governo é um reflexo da instabilidade vivida pela França desde as eleições antecipadas fracassadas de 2024.
O país, sem uma maioria política estável no Parlamento, enfrenta também uma dívida pública crescente, que já atingiu cerca de 114% do Produto Interno Bruto (PIB), o que tem gerado incertezas sobre o futuro econômico da nação.
Em sua última intervenção no cargo, antes da votação que selou a sua queda, Bayrou alertou que a França enfrentava um risco crescente devido à falta de mudanças nas políticas econômicas. Em seu discurso, ele destacou a urgência de aumentar a produtividade e reduzir a dívida pública, afirmando que “o maior risco” seria continuar sem tomar medidas concretas.
“O nosso país trabalha, acredita que está a enriquecer e, todos os anos, empobrece um pouco mais. É uma hemorragia silenciosa, subterrânea, invisível e insuportável”, afirmou o ex-primeiro-ministro, na Assembleia Nacional, antes de ser interrompido várias vezes pela oposição.
A moção de confiança solicitada por Bayrou foi vista por muitos como um “suicídio político”, dado o cenário fragmentado da Assembleia Nacional, com três blocos distintos: esquerda, centro-direita e extrema-direita.

Sem uma maioria consolidada, Bayrou buscou no voto de confiança uma “prova da verdade”, um esforço para enfrentar a iminente crise da dívida e fazer avançar as reformas necessárias. “Este é um momento da verdade”, disse Bayrou, apelando aos deputados para que tomassem uma decisão histórica para o futuro da França.
No entanto, a reação ao pedido de confiança não foi favorável. O Partido Socialista já havia antecipado que não daria apoio a Bayrou, enquanto o Rassemblement National (RN), o partido de extrema direita de Marine Le Pen, afirmou que a França só conseguiria sair do impasse atual com a convocação de novas eleições legislativas.
Entre as críticas mais duras ao primeiro-ministro, destacaram-se as feitas pelos Verdes, com a deputada Cyrielle Chatelain dizendo que “sua partida é um alívio”. “Se não fosse pela preocupação do que vem a seguir, seria quase satisfatório”, declarou Chatelain, refletindo o sentimento de grande parte da oposição.
O sistema político francês, caracterizado pela separação entre as funções de chefe de Estado e chefe de Governo, tem sido desafiado pela instabilidade política nos últimos meses.
Emmanuel Macron, presidente da França, exerce a liderança no campo externo e nas questões de defesa, enquanto o primeiro-ministro, nomeado pelo presidente, é o responsável pela gestão interna do Governo e deve prestar contas ao Parlamento.