Partido do general Mourão, vice de Bolsonaro, financiou a rede de fake news do site Folha Política. Por Zambarda

Atualizado em 5 de agosto de 2018 às 19:04
O general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), presidente do Clube Militar (Exército Brasileiro/Divulgação)

Essa reportagem é de 1º de agosto de 2018. Estamos republicando por razões óbvias.

No dia 11 de julho desse ano, o repórter Piero Locatelli publicou no site Intercept Brasil que o PRTB financiou uma empresa chamada Novo Brasil Empreendimentos entre outubro e dezembro de 2017. O valor do investimento foi de R$ 25 mil para a companhia dona do site Folha Política e das páginas no Facebook Movimento Contra Corrupção (MCC) e TV Revolta.

A informação consta na prestação de contas da legenda de 2016 divulgada em junho. Para quem não sabe, o PRTB foi criado em 1997 por Levy Fidelix, o homem do “Aerotrem”, e chegou a abrigar, entre 2000 e 2007, o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Hoje a legenda tem como presidenciável o general Antonio Mourão, que chegou a defender abertamente um golpe militar e a própria ditadura brasileira.

A Novo Brasil Empreendimentos é propriedade de Thais Raposo Chaves e Ernani Fernandes. O DCM em 2015 informou que Ernani e Alan Carvalho, coordenador do MCC, estavam por trás do Folha Política, que hoje tem quase dois milhões de curtidas no Facebook. O mesmo Ernani Fernandes recebeu R$ 24 mil do deputado federal paranaense Delegado Fernando Francischini, do PSL, coordenador informal de Jair Bolsonaro.

O UOL informou que o parlamentar repassou a verba da sua cota parlamentar. O deputado confirmou a informação e disse que o mesmo Ernani é um “coitadozinho de um menino que ajuda” com redes sociais.

Outra empresa de Thais Raposo Chaves e Ernani Fernandes, A Raposo Fernandes Associados,  administra a página de Facebook do ator Alexandre Frota e um canal de YouTube chamado Ficha Social, que abrigava vídeos de Kim Kataguiri antes da criação do MBL em 2014.

A mesma Raposo Fernandes cuida da página Juiz Sérgio Moro – Estamos com você, que tem 1,6 milhão de curtidas, e a Juventude Contra Corrupção, de 1,4 milhão.  Essa empresa, segundo descrição de 2015, teria uma “escola filosófica” para ensino de humanidades com site próprio. A página da tal escola foi tirada do ar.

A rede de fake news da Folha Política, somada, teria alcance de 10 milhões. Suas páginas estão entre as mais curtidas e compartilhadas no tema de política dentro do Facebook desde 2014.

Por que Fidelix teria interesse em financiar uma rede de fake news e de páginas de direita com pouco compromisso com a verdade?

Político sem expressão, ele entrou na vida pública em 1984 para ajudar a fundar o PL. Recebeu apenas 737 votos ao tentar ser deputado em 86 e não conseguiu o cargo. Transferiu-se para o PTR. Naquela época, tornou-se um dos assessores de comunicação do então presidente Fernando Collor de Mello.

Em 2000, com Collor de volta ao Brasil, tentou ser vice-prefeito de São Paulo ao seu lado e teve a chapa impugnada pelos direitos políticos cassados do ex-presidente. Tentou o governo de São Paulo em 2002, vereador em 2004, deputado estadual em 2006 e prefeito em 2008. Fracassou em todas as tentativas.

Passou a negociar, com seu partido, tempo de televisão.

No ano de 2010, Levy Fidelix tentou a presidência pela primeira vez, ficou em sétimo lugar e apoiou Dilma Rousseff no segundo turno contra José Serra. Em 2014, o folclórico homem do “Aerotrem” deu lugar a um político profundamente conservador, homofóbico e agressivo em suas falas. Sobre união de pessoas do mesmo sexo, Fidelix disse a Luciana Genro: “pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais, digo mais: desculpe, mas aparelho excretor não reproduz”.

Marcado pelo reacionarismo, agora ele atraiu o General Mourão para sua legenda e pretende apoiar candidatos militaristas. E o Folha Política deu informações do PRTB, dos seus financiadores, em primeira mão.

Foi o site e sua rede de fake news com quase dois milhões de curtidas que anteciparam Mourão no lugar de Fidelix como presidenciável, além de um texto exaltando o general. A mesma página diz que o atentado a tiros na caravana do ex-presidente Lula no sul do Brasil teria sido armação, citando um tuíte do apresentador Milton Neves comparando com a “grávida de Taubaté” e peritos que colocariam o episódio em dúvida. O site, no entanto, não sabe precisar suas fontes.

Mas talvez a Folha Política seja um reflexo do seu financiador Fidelix.

O político criador do PRTB diz num vídeo publicado no Facebook de maio que a enciclopédia global Wikipédia é feita por “fakes, canalhas e bandidos” porque, segundo ele, o artigo sobre Levy Fidelix não constava uma suposta vitória dele em segunda instância num processo sobre igualdade de gênero. Levy Fidelix também afirma, em outro vídeo, que Henrique Meirelles “é um Iluminatti” porque fez parte, de acordo com ele, dos governos Lula e FHC, além de ter “enviado R$ 10 trilhões para fora do Brasil”.

No site Folha Política, um vídeo cortado do programa Profissão Repórter da Globo tenta defender o técnico de TI Carlos Afonso, conhecido como Luciano Ayan do site Ceticismo Político, aparece nos materiais relacionados dos textos.

Duas empresas, as JBS e 4Buzz, teriam pago um post patrocinado ao Google para promover um texto de Ayan no Folha Política acusando o jornalista Leonardo Sakamoto de ser corrupto e de ter recebido R$ 1 milhão sem provas.

A denúncia foi feita em 2016 pela Folha de S.Paulo. É esse tipo de página que Levy Fidelix, que acredita nos “Iluminatti”, e Fernando Francischini financiam.