
O preço elevado das passagens aéreas no Brasil voltou a chamar atenção com a divulgação das tarifas para Belém durante a COP30. O país lidera a média de preços de voos domésticos na América Latina, com valor de US$ 135 (R$ 722), quase o dobro do Peru, segundo levantamento da Mabrian.
A previsão é de alta de 12,2% neste ano, enquanto os bilhetes peruanos devem subir apenas 1,7%. Comparações entre rotas mostram a diferença: um trecho São Paulo–Rio de Janeiro, de 357 km, custa em média R$ 740 partindo de Congonhas, enquanto voos como Lima–Cusco (571 km) saem por R$ 237 e Buenos Aires–Córdoba (647 km) por R$ 251.
A ausência de companhias low cost no Brasil é apontada como fator central. Em países vizinhos, esse modelo de negócio reduziu preços, mesmo com a cobrança extra por serviços adicionais. O mercado brasileiro é concentrado em três empresas (Gol, Azul e Latam) que operam com estruturas semelhantes.
Além disso, custos operacionais são elevados por fatores como combustível, impostos aeroportuários e infraestrutura limitada. Para analistas, a instabilidade monetária agrava o cenário, já que as aeronaves são financiadas em dólares enquanto as receitas são em reais.
Outros elementos tornam o país pouco atraente para novos concorrentes. O ambiente regulatório e judicial é apontado como barreira: no Brasil, há uma ação contra empresas aéreas a cada 0,52 voos, índice muito superior ao dos EUA, onde ocorre um processo a cada 2.585 voos. A alta litigiosidade encarece o setor e desestimula modelos de baixo custo.

A falta de aeroportos alternativos nas principais capitais é mais um obstáculo. Em Nova York e Paris, companhias low cost utilizam terminais secundários com tarifas menores. No Brasil, opções como São José dos Campos não têm infraestrutura suficiente para cumprir esse papel em relação a São Paulo. Tentativas passadas, como a Webjet, encerrada em 2012, não resistiram ao ambiente de custos altos.
As dimensões territoriais também pesam. Rotas longas, como de Belém ou Manaus para Brasília e São Paulo, frequentemente ultrapassam R$ 2 mil na ida e volta. Aeronaves em trajetos extensos têm menor rotatividade e menor oferta de assentos, o que reduz a margem de competitividade. Modelos de subsídios aplicados nos EUA e no Canadá para regiões distantes não são utilizados no Brasil.
Cerca de 2% dos municípios brasileiros contam com voos regulares. Em regiões como a Amazônia, a falta de incentivo estatal torna rotas inviáveis. Países como a Argentina mantêm a conectividade em áreas pouco rentáveis por meio da estatal Aerolíneas Argentinas, ainda que com críticas pela baixa eficiência e custos altos.
A ausência de alternativas ferroviárias amplia a dependência do transporte aéreo. A rota Rio–São Paulo, uma das mais movimentadas do mundo, não conta com trem de alta velocidade. Projetos para o chamado trem-bala foram retomados em 2023, mas ainda estão em fase inicial. Especialistas afirmam que a concorrência do modal ferroviário, como ocorre na Europa, poderia pressionar a redução dos preços.