Pastor acusado de desviar recursos do MEC investe em empresas de fachada

Tanto a faculdade quanto a editora foram registradas em sedes da Assembleia de Deus Cristo Para Todos

Atualizado em 25 de março de 2022 às 6:45
Pastor Gilmar Santos é suspeito de atuar como lobista no MEC
Pastor Gilmar Santos é suspeito de atuar como lobista no MEC. Foto. Reprodução

O pastor Gilmar Santos, suspeito de cobrar propina para facilitar a liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC), investiu quase meio milhão de reais para criar duas empresas, abertas há duas semanas. No mesmo dia, 8 de março de 2022, ele abriu uma faculdade em Goiânia, com aporte inicial de R$ 100 mil, e registrou uma editora.

A editora fica na cidade vizinha de Aparecida de Goiânia, com capital de R$ 350 mil. Na quarta, dois prefeitos afirmaram ao jornal O Globo que Santos e outro religioso, Arilton Moura, pediram quantias em dinheiro e até a compra de bíblias em troca de agilizar os repasses aos municípios.

O jornal esteve nos dois endereços das empresas que constam nos documentos protocolados na Junta Comercial de Goiás. Tanto a faculdade quanto a editora foram registradas em sedes da Assembleia de Deus Cristo Para Todos. A igreja é comandada por Santos e Moura também faz parte.

Em ambos os casos, não há sinal de que os locais sirvam para outras atividades além dos cultos religiosos. Na capital goiana, o templo funciona em um prédio de três andares que atualmente está em obras (na fase de concretar as paredes), cercado por duas casas grandes e muradas.

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Pastores do MEC colocam dinheiro em empresas que não são de educação

Presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de evento no MEC, em fevereiro de 2021, com ministro Milton Ribeiro e, ao lado dele, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura
Presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de evento no MEC com ministro Milton Ribeiro e pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Foto. Reprodução

De acordo com vizinhos que frequentam a igreja, a obra começou há três anos e foi paralisada por falta de dinheiro durante a pandemia. Em vídeos postados em 2021, o pastor aparece pedindo dinheiro aos fiéis para comprar ferragens para as escadas e concluir a construção do telhado.

Nas imagens, ele balança um papel com orçamento das obras. A nova estrutura, de acordo com os fiéis ouvidos em caráter reservado, é onde o pastor pretende instalar a “Faculdade ITCT”, sigla para “Instituto Teológico Cristo para Todos”.

A sede em Aparecida de Goiânia, por sua vez, é mais modesta. No endereço onde a nova editora de Santos foi registrada existe apenas um galpão, pintado de azul, com o nome da igreja e uma foto do religioso na fachada. O local, que fica em uma área industrial a cerca de 20 minutos do centro da cidade, estava fechado na tarde de ontem.

Santos já possuía uma editora, criada em 2013, no mesmo endereço da igreja em Goiânia, registrada como “Editora e Publicadora Cristo para Todos Limitada”. O capital social desta empresa é de R$ 110 mil. A nova, criada há duas semanas com o triplo do valor, tem CNPJ diferente.

O nome é quase idêntico: “Editora Cristo para Todos Limitada”. Questionado sobre a abertura das empresas no mesmo dia, Gilmar não respondeu. Os relatos dos prefeitos Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), e José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), dão conta de que os pedidos de propina variavam de R$ 15 mil a R$ 40 mil e incluíam também a compra de bíblias.

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