Pastor bolsonarista que chamou Lula de “ladrão” e disse “odiar pobre” usou igreja para lavar dinheiro

Atualizado em 17 de julho de 2025 às 7:55
O pastor Davi Nicoletti em fotografia ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução

Davi Nicoletti, pastor fundador da Igreja Recomeçar, está sendo investigado pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de lavar dinheiro oriundo de um esquema de pirâmide financeira com criptomoedas. Com informações do colunista Tácio Lorran, do Metrópoles.

Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a conta da igreja recebeu mais de R$ 4 milhões em transferências de um grupo investigado entre 2018 e 2019. Nicoletti nega as acusações, chama o relatório do Coaf de “mentiroso” e afirma que o inquérito será arquivado.

De acordo com o relatório da autarquia, o dinheiro movimentado na conta da igreja não tinha justificativas econômicas claras. O documento aponta que os valores podem ter sido utilizados para maquiar recursos adquiridos de forma fraudulenta pela empresa MDX Capital Miner Digital LTDA, envolvida no suposto esquema de pirâmide – a companhia acumula dezenas de processos de investidores que relatam prejuízos e também é alvo do Ministério Público do Ceará.

O Ministério Público do Ceará informou que aguarda a conclusão do inquérito da Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro. Em uma das ações, vítimas relataram ter perdido R$ 200 mil após investirem na MDX, após serem abordadas durante um culto.

Apesar da gravidade das denúncias, o inquérito que apurava a ligação direta entre Nicoletti e a MDX já foi arquivado por falta de provas.

Em nota, a defesa de Nicoletti afirmou que não há nenhuma acusação penal válida em trâmite contra o pastor ou sua igreja. Alega ainda que, por lei, é necessária a existência de um crime anterior comprovado para configurar a lavagem de dinheiro, o que não teria ocorrido no caso em questão. O arquivamento teria sido decidido após manifestação do Ministério Público reconhecendo a ausência de elementos suficientes.

Sobre a movimentação milionária, o pastor afirma que, em 2019, a igreja contava com seis unidades e não arrecadou mais que R$ 1,5 milhão em ofertas.

Segundo ele, qualquer valor transferido por membros ligados à MDX foi feito de forma voluntária e sem envolvimento comercial. “O Pastor Davi Nicoletti não é, nem nunca foi, sócio, gestor ou beneficiário da MDX”, completou a nota.

O suposto religioso ganhou notoriedade nas redes recentemente após declarar em culto que “odeia pobre” e chamar o presidente Lula (PT) de “ladrão”. Ele defende a ideia de que cristãos devem prosperar financeiramente e critica a mentalidade de vitimização.