Pastor denuncia a participação das igrejas evangélicas brasileiras no golpe na Bolívia

Atualizado em 12 de novembro de 2019 às 17:07
Camacho (centro) diante de uma Bíblia e da bandeira da Bolívia, no Palácio Quemado, sede do governo em La Paz

Publicado originalmente no Facebook do Hermes C. Fernandes, pastor, psicólogo e conferencista no RJ.

Lamento profundamente o envolvimento de igrejas evangélicas brasileiras no golpe de estado promovido na Bolívia e que culminou na renúncia de seu presidente democraticamente eleito Evo Morales, primeiro presidente indígena de um país latino-americano. Todavia, confesso que não me surpreendo por saber que muitas destas igrejas estão à serviço da agenda norte-americana que tem como objetivo consolidar a América Latina como seu quintal. Ou pior: Querem fazer da América Latina a latrina da América.

Um dos primeiros gestos dos golpistas foi retirar a bandeira Wiphala, dos povos indígenas da Bolívia, da Assembleia Legislativa, o que revela o seu caráter racista e fascista.

Em pronunciamento oficial, Evo Morales renunciou para evitar um banho de sangue em seu país. Algumas horas antes, as casas da irmã do presidente e de dois governadores de seu partido foram incendiadas.

A renúncia foi anunciada pouco depois das Forças Armadas e da Defensoria Pública boliviana aderirem ao golpismo promovido pela oposição, capitaneada por Luis Fernando Camacho e Carlos Mesa, segundo colocado nas eleições de 20 de outubro. O pleito, rejeitado pela direita, garantiu um quarto mandato ao ex-líder sindical indígena.

Fernando Camacho entrou no Palácio do governo munido de uma Bíblia pouco antes da declaração oficial de Morales, demonstrando ser um dos principais artífices do golpe. De joelhos dobrados, numa cena que claramente visava agradar a seus apoiadores fundamentalistas, Camacho colocou a Bíblia aberta sobre a bandeira do país, depois de já haver afirmado que traria Deus de volta ao palácio.

Triste mesmo foi ver os líderes evangélicos brasileiros celebrando o atentado contra a democracia. É justamente por associar-se à agenda neo-liberal e ao imperialismo norte-americano que as igrejas evangélicas sofrem tantas perseguições mundo afora. Uma coisa é ser perseguido por amor a Cristo e ao evangelho. Outra totalmente diferente é ser perseguido justamente por opor-se aos direitos das minorias e aliar-se a interesses escusos contrários aos princípios pregados por Jesus.

Aliás, respondam-me com sinceridade: O que era a Bolívia antes do Governo Evo Morales? O que era a Bolívia antes que aquele índio a transformasse no país com o maior crescimento econômico-social da América Latina? Se, de fato, o processo eleitoral foi fraudado como alegava a oposição, por que não se convocou novas eleições como propôs Morales? Se o fato de ele já estar no quarto mandato configura algum tipo de ditadura, o que dizer de Angela Merkel, chanceler da Alemanha que também já está em seu quarto mandato? Quando é que os EUA vão meter o bedelho lá também?

Depois do ocorrido na Venezuela e na Bolívia, o Brasil deveria colocar as barbas de molho. As forças contrárias à democracia e à ascensão das classes trabalhadoras não vão deixar barato o ocorrido na Argentina e no Chile. A Bolívia é só um recado.