Pastor organizador de motociata em SP vira réu por crime contra a Saúde, e juíza oficia STF para investigar Bolsonaro

Atualizado em 9 de julho de 2022 às 11:29
Jarkson e Bolsonaro em motociata

O organizador da motociata “Acelera para Cristo”, protagonizada por Jair Bolsonaro em São Paulo em junho do ano passado, possui uma ficha de antecedentes criminais com oito inquéritos policiais por crimes como estelionato, perseguição e ameaça, injúria e denunciação caluniosa. Além disso, é réu ou já foi condenado em uma série de processos civis, a maioria por calote em fornecedores ou prestadores de serviços.  

Seu nome é Jarkson Vilar da Silva. Ele é empresário e pastor evangélico da cidade de Campinas, além de youtuber e conhecido apoiador do presidente da República. Desde o dia 30 de junho deste ano, ele também é réu pelo crime previsto no artigo 268 do Código Penal, “infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”.

O crime teria acontecido exatamente na motociata que organizou, quando – ao lado de Jair Bolsonaro, deputados e ministros – subiu sem máscara em um palco instalado na praça Campo de Bagatelle, zona norte da capital paulista, e discursou aos gritos e perdigotos para uma plateia estimada em 12 mil pessoas, em plena pandemia de covid 19. 

A denúncia do Ministério Público de São Paulo não incluiu Jair Bolsonaro e outros políticos que tiveram a mesma conduta durante o evento, como o então ministro Tarcísio Gomes de Freitas, apenas porque possuem foro privilegiado e não poderiam constar na mesma ação penal do pastor bolsonarista.

Assim, no último dia 30, a juíza Cristina Alves Biagi Fabri, da 2ª Vara Criminal de Santana, determinou que se oficie o Supremo Tribunal Federal (STF) informando a respeito dos atos investigados, para que se verifique se já existe inquérito em andamento para que Bolsonaro e os outros políticos possam ser também denunciados no foro devido. Veja trecho da decisão abaixo.

Jarkson Vilar tem uma ficha de antecedentes criminais em que consta a instauração de oito inquéritos policiais, por crimes como estelionato, denunciação caluniosa, injúria, ameaça e perseguição.

Em um deles, a vítima é o ex-governador João Doria, alvo de uma ação sistemática de perseguição e ameaça por parte do empresário bolsonarista ao longo dos anos de 2020 e 2021.

Este inquérito evoluiu para uma denúncia e abertura de processo penal na Justiça pelos crimes previstos nos artigos 140 e 147 do Código Penal, “perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica”. 

Em vídeos que circularam pela internet e grupos de Whatsapp, o pastor disse: 

Nós vamos invadir sua casa, filha da puta”; “Vamos pegar você amanhã, filha da puta e segunda-feira lá no Palácio”; “nós vamos fechar o cerco pra vocês, vocês vão perder a mamada de vocês, vocês vão perder a boquinha de vocês que nós vamos arrancar, nós vamos extrair vocês igual extrai um câncer.

Veja abaixo trecho da denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) sobre o caso.Ele ainda convocou manifestantes por meio de mensagens de aplicativo e em redes sociais a cercarem a casa do ex-governador e “mostrar para ele quem manda em São Paulo”. 

Intimado a explicar seus atos na polícia, o pastor perdeu a virulência na fala. Ao delegado, disse estar “muito arrependido” do que dissera. Disse também que publicou os vídeos “no calor do momento”, porque estava muito contrariado com o fato de “pessoas estarem morrendo de fome porque o governador obrigou todos a ficar em casa durante a pandemia”.

Para se livrar de uma condenação que poderia levá-lo à cadeia por até dois anos, ele gravou um vídeo pedindo desculpas a João Doria, e a Justiça transacionou sua pena para prestação de serviços à comunidade e pagamento de cestas básicas. 

Agora, no entanto, exatamente porque já gozou dessa possibilidade em crime anterior, não poderá agir da mesma maneira, solicitando o que se chama de transação penal. Assim, se for condenado, a pena será de seis meses de detenção (regime semiaberto) e multa.

Esta não é a primeira nem a segunda vez que Jarkson Vilar se vê às voltas com a Justiça. Conforme se disse, sua ficha de antecedentes criminais constante no processo pela motociata inclui oito investigações policiais por crimes variados. 

Um deles, em que o crime investigado é aquele previsto no artigo 171 do Código Penal (estelionato), é identificado como “inquérito em andamento”, muito embora o Tribunal de Justiça de São Paulo informe em seu sistema processual que o procedimento está arquivado. 

Além dos crimes, o pastor bolsonarista é também réu ou já foi condenado em uma série de ações civis, a maioria por calote em dívidas.

Em um deles (processo número 1004972-46.2021.8.26.0006), foi condenado por dar calote na mensalidade do colégio da filha. Até a publicação desta reportagem, o colégio Joaquim Maria Machado de Assis ainda aguardava a execução da sentença. 

Em outro (processo número 1060859-95.2019.8.26.0002), a condenação é por ter dado calote na gráfica que fez os “santinhos” de sua campanha derrotada a deputado federal em 2018. Ele passou seis cheques, totalizando um valor de R$ 62 mil. Todos foram devolvidos porque não tinham fundos (veja a imagem de um deles, abaixo). Até a publicação desta reportagem, Jackson Vilar ainda não tinha pagado o que devia.

Cheque sem fundo (com o carimbo de devolução do banco) que o pastor bolsonarista passou a um de seus fornecedores eleitorais

Finalmente, também no ano de 2018, Vilar foi despejado de um imóvel porque não pagava o aluguel. Ele só promoveu a desocupação da propriedade quando foi expedido mandado judicial (processo número 1004612-31.2018.8.26.0002). 

Um autêntico cidadão de bem.

Em 2018, enquanto era candidato a deputado federal e dava calote em fornecedores, o pastor bolsonarista foi despejado de imóvel por não pagar aluguel