Patrícia Lélis explica como namorou um Bolsonaro e sobreviveu para contar sua história. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 15 de abril de 2018 às 9:34

Esta reportagem está sendo republicada

Imagina ser uma mulher que foi vítima do pastor-deputado Marco Feliciano, viveu uma relação abusiva com um Bolsonaro, foi doutrinada pelo Pastor Everaldo e saiu ilesa e plena direto pra uma baladinha esquerdosa com um médico cubano?

Muitas emoções.

Foi assim com Patrícia Lélis.

Conversamos descontraidamente – aparentemente o feminismo e a afinidade com médicos cubanos livram as pessoas dos traumas bolsonarianos – sobre os detalhes da relação abusiva que ela manteve com Eduardo Bolsonaro por mais de três anos.

Atenção mulheres que como eu viveram relações abusivas: Preparar para os gatilhos.
(E preparar o estômago também).

1. Como você e o Eduardo Bolsonaro se conheceram?
Nós nos conhecemos através do Pastor Everaldo num evento do PSC-Jovem.

2. Como ele costuma cortejar as mulheres?
Ele é o tipo abusado, sabe? Ele acha que ele é o dono do mundo e tem um jeito de cortejar, tipo, não tão educado…

3. Como assim não tão educado?
Já chega fazendo piadinha, achando que pode tudo…

4. Ele costumava opinar na maneira como você se vestia?
Não só ele, mas todo o partido, né? Eu conheci uma moça que trabalha com ele, que é a Nayara, Nayara é assessora dele até hoje… E a Nayara era responsável por escolher minhas roupas e tal pra poder entrar nos padrões do partido, né?
*pausa para a entrevistadora vomitar*

5. Ele fazia questão de saber todos os lugares aos quais você ia?
Ele costumava saber todos os lugares que eu ia sim porque eu nunca andava sozinha, eu só podia andar junto com essa menina, a Nayara, que era assessora dele, então aonde eu ia ele sempre sabia, não tinha essa.
*nova pausa para vômito*

6. Como assim não tinha essa? Ele te obrigava a andar com a Nayara a tiracolo?
Sim, ele meio que me obrigava, só que ela era também uma menina bastante legal, e eu acabei fazendo amizade com a Nayara, sabe? Ela passou até a conviver muito comigo e com a minha família, a gente acabou virando amigas mesmo. Mas assim, quando eu não andava com ela, ele achava muito ruim… então sempre foi essa coisa assim: “SEMPRE ANDE COM A NAYARA”. Mas como eu acabei fazendo amizade com ela, virou uma coisa boa pra mim, sabe, porque eu preferia andar com ela do que andar com outros assessores do partido. E se andasse sozinha ele se irritava.

7. Qual a história mais traumática de abuso da qual você se recorda, envolvendo o Eduardo Bolsonaro?
Tudo com ele foi muito estranho. Uma das coisas mais assim… o pior acho que foi quando o PSC inteiro sabia do abuso do Feliciano, inclusive ele, e ele me pediu pra não falar nada.

Eduardo Bolsonaro e Patrícia Lélis
Os pombinhos

8. Como ele reagiu exatamente à história do Feliciano?
Ele foi mais do mesmo. Ele sabe que é verdade! Todo mundo no PSC sabe que é verdade e todo mundo me mandou ficar calada. Ele fez a mesma coisa.

9. Rolou traição?
Acho que sim. Sim, rolou. Na verdade eu tenho certeza que sim, mas odeio admitir isso.

10. Como tem certeza?
Porque ele é assim, ele teve vários casos, com várias pessoas, ele sempre foi assim.

11. Você sentia vontade de terminar? O que te impedia de fazê-lo?
Sentia, mas tinha aquela coisa, assim, de… Sabe quando o cara fica falando ‘ah, se você terminar comigo você nunca mais vai arrumar ninguém’? E eu acreditava nisso, porque eu pensava: ‘po, eu to com um cara que todo mundo do partido conhece, muita gente gosta, e se eu terminar com ele eu não vou ser feliz.’ Aí quando eu descobri que a história não era bem assim, falei ‘ah, quer saber? eu sou uma mulher muito legal pra ficar sozinha.’ Isso é meio que um abuso psicológico, hoje eu entendo assim.
*pausa final para risos*. essa pausa precisou ser muito longa.

Bem, ele estava errado. Você está namorando um médico cubano, confere? Quais as diferenças principais entre a sua relação com o Bolsonaro e a sua relação com o seu atual namorado?
Eu acho que é essa questão do ser livre, sabe? Meu relacionamento saudável, hoje, ele não tem essa cobrança, essa vigilância, eu posso sair com quem eu quero, eu não preciso ficar mandando localização do meu celular de onde eu estou, é uma coisa realmente saudável. Eu posso ir e vir com as minhas amigas. Eu posso ir, por exemplo, pra uma festa com minhas amigas e ele não acha ruim, ele não briga, não faz nada do tipo, ele me respeita muito.

E não faz mais do que a obrigação dele, né, miga?