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Os ‘patriotas equivocados’

A jovem Dilma no tribunal depois de ter sido capturada na luta contra a ditadura.

NOS ANOS 60, JOVENS se rebelaram contra a ditadura militar. Os generais subiram ao poder num golpe fortemente apoiado pelos Estados Unidos, em 1964. Naquele momento, os americanos viviam uma “guerra fria’ contra os russos. O governo de João Goulart pareceu suspeito de esquerdismo e de simpatias comunistas por Washington. Um Brasil comunista, no quintal americano, seria para os Estados Unidos um pesadelo várias vezes maior do que Cuba.

Uma ditadura militar de direita sossegaria os americanos. Foi o que aconteceu, em 31 de março de 1964, com  a deposição de Jango – o apelido de Goulart – e a ascensão do general  Castelo Branco, provavelmente o presidente mais feio da república, a despeito da boa concorrência. Baixinho, entroncado, Castelo Branco não tinha pescoço.

O ambiente político brasileiro ficou pesado. Censura na imprensa – que maciçamente defendera o golpe –, perseguição e mortes de suspeitos de comunismo. As universidades foram virtualmente sitiadas. O Crusp, o conjunto de prédios da USP que abrigava estudantes necessitados de teto, foi fechado.

Foi nesse ambiente que um grupo de jovens se insurgiu. A melhor definição para eles seria dada, anos depois, pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes: patriotas equivocados.

Filhos da elite, em geral universitários de alto desempenho, eles largaram tudo e pegaram em armas contra o regime.  A política normal lhes estava vedada. Se a guerra é a continuação da política por outros meios, aquele era o caso dos insurgentes.

Eles abandonaram todos os seus privilégios. Até o nome. Sob codinomes, viviam na clandestinidade em situação material precária.  Podiam morrer a qualquer momento. A prisão e tortura eram possibilidades diuturnas.

Prestes os definiu como patriotas por razões óbvias. Lutavam pelo país. Equivocados, porque segundo Prestes, e a história confirmaria, o movimento não tinha condições de triunfar. O Partido Comunista de Luiz Carlos Prestes, sem fogo jovem em seus quadros, não aderiu à insurreição.

Eram idealistas, como os jacobinos franceses e mesmo os bolcheviques russos antes que Stálin se revelasse no poder um assassino em massa. Ou como os panteras negras americanos.

Não eram bandidos.

Não eram assassinos.

Eram equivocados? Sim. O preço do equívoco, para muitos, foi a morte, a tortura, o exílio. Vidas interrompidas.

Os sobreviventes tiveram que recomeçar em condições extremamente adversas.

Dilma é um desses casos.

Em sua biografia, aquele é um episódio que a eleva em vez de rebaixar.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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