Patriotismo hipócrita: a ausência de Kaká, Ronaldo, Marcos no velório de Pelé. Por Tiago Barbosa

Atualizado em 4 de janeiro de 2023 às 10:25
O Rei do Futebol, Pelé, e outras estrelas que não compareceram ao seu enterro: Ronaldo, Kaká e Cafu
Foto: Reprodução/Montagem

O adeus ao maior brasileiro de todos os tempos deu novos contornos a um fenômeno bastante prevalente no seio do bolsonarismo: o patriotismo hipócrita.

A manifestação da vez eclodiu no futebol, o terreno fértil para a proliferação de cidadãos de bem cuja demonstração de amor à pátria se limita, pelo visto, à devoção de um fascista e todo seu fundamentalismo.

O patriotismo de araque – e desrespeito à memória do Brasil – escorreu do completo desprezo de campeões do tetra, do penta e da Seleção atual ao velório do tricampeão e principal jogador de futebol do Brasil e do mundo.

Sim, Pelé.

Quase nenhum desses jogadores do esporte reinventado pelo Rei teve a dignidade de se abalar até a Vila Belmiro para se despedir do atleta e se irmanar à comoção nacional pela perda do maior ídolo do país.

Era um gesto obrigatório a quem vestiu a camisa da Seleção para demarcar o valor histórico, esportivo e afetivo de Pelé e atestar a relevância incontornável para as glórias obtidas por todos em campo e junto à torcida.

Neymar, o atual camisa 10 do Brasil e ex-santista, preferiu ficar em Paris a tomar uma das aeronaves próprias e dar adeus ao principal nome do Santos.

Fãs e internautas fizeram circular uma proibição do PSG à saída do jogador para o velório – rapidamente desmentida pela mídia francesa.

Nem precisava. Neymar soube se impor quando quebrou regras da Seleção às vésperas da Copa para expressar apoio ao fascista Bolsonaro, cujo patriotismo levou à derrocada econômica do Brasil e a 700 mil mortos.

No auge da pandemia em 2020, frise-se, Neymar chegou a articular jatinhos para levar amigos a uma festa só cancelada após críticas unânimes pela irresponsabilidade sanitária.

O desprezo por Pelé também imperou entre o grupo de patriotas da bola mais afeitos ao camarote da Fifa na Copa e menos à torcida brasileira no Catar.

Ronaldo, Roberto Carlos, Rivaldo e Kaká deram as costas à despedida do Rei em um ato óbvio de indiferença à memória e ao ídolo maior do esporte.

É um contraste absoluto com o falso patriotismo arrotado por Kaká no torneio ao criticar o brasileiro por “não respeitar os ídolos do futebol”.

A hipocrisia é, não por acaso, traço preponderante do bolsonarismo, a degeneração política endeusada por boa parte desses jogadores indiferentes ao Rei.

E cujo expoente supremo – é claro – cometeu crimes contra o país, ignorou a morte de Pelé e fugiu covardemente para o exterior com medo de ser preso.

Bolsonaro silenciou enquanto Lula, execrado por certa escória da bola, viajou a Santos, consolou parentes e se uniu ao povo no adeus ao Rei.

No mundo da vida e da bola, nada como um lance da realidade para desmascarar a hipocrisia da vez.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link

Tiago Barbosa
Jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco, pós-graduado em História e Jornalismo pela Unicap. Ex-editor do caderno e do site de Cultura do Diario de Pernambuco