Paula Lavigne virou a Yoko Ono da MPB

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:13
Pedradas da esquerda e da direita
Pedradas da esquerda e da direita

Paula Lavigne virou a Yoko Ono da MPB: todo mundo odeia. Yoko era detestada pela crença – errada, aliás – de que acabara com os Beatles.

Paula é abominada pela crença – também errada – de que ela comanda o movimento “pró-censura”, aspas, das biografias no Brasil. Ela teria seduzido, para suas fileiras, (ex) heróis da MPB nacional como Chico, Gil e Caetano, seu antigo marido.

Paula Lavigne tem um problema sério contra o qual ela pouco pode fazer: é bonita, inteligente e bem-sucedida. É mais que suficiente para que ela angarie uma carga maciça de rejeição entre os brasileiros.

Quanto ela é brilhante ficou claro ontem no programa Saia Justa, em que o tema das biografias foi tratado. Paula deu um ipon na jornalista Barbara Gancia, uma das mais conhecidas polemistas da mídia brasileira, com uma única pergunta: “Qual o nome de sua namorada?”

Na pergunta estava demonstrado o que é invasão de privacidade, um direito que tem sido ignorado por muitos dos que acusam Chico, Gil e Caetano de se baterem pela “censura”. Embora Barbara Gancia seja abertamente gay, é presumível que ela não gostasse que sua intimidade fosse exposta diante de milhares de pessoas num programa de tevê.

O debate sobre o direito à privacidade é uma das coisas mais atuais num mundo em que floresce uma indústria predadora de fofocas para a qual não existe limite.

Na Inglaterra, um antigo chefão da Fórmula 1, Max Mosley, processou um jornal por ter publicado um artigo que o mostrava num sexo grupal. Mosley recebeu uma indenização de 60 000 libras, mas não ficou satisfeito. Achou o dinheiro insuficiente para deter a voracidade da mídia mexeriqueira, e então processou o Reino Unido numa corte internacional por não lhe garantir privacidade – um direito reconhecido não faz muito tempo entre os britânicos.

Mosley, como muita gente, defende a tese de que a mídia deve informar previamente a pessoa sobre fatos que configurem invasão à privacidade – para que o atingido tenha tempo de tentar barrar a fofoca na justiça. A mídia faz pressão para que isso não aconteça, sob o argumento de que se está cerceando a liberdade de expressão.

Em outra passagem muito boa de Paula Lavigne no Saia Justa, ela disse que o que se deve discutir hoje são “dois gigantes”: a liberdade de expressão e o direito à privacidade. É exatamente isso. É um debate que se trava não apenas no Brasil, mas no mundo. No Brasil, a situação é especialmente complicada porque a justiça é inoperante e vigora um regime de completa irresponsabilidade numa mídia sem freios. Nem sequer direito de resposta existe entre nós.

Por tudo isso, sob intensa pancadaria na qual se juntam reacionários como Reinaldo Azevedo e progressistas como Mário Magalhães, Paula Lavigne combate – corajosamente – o bom combate. A despeito da polêmica da lei em si, se formou um consenso, por conta em grande parte da militância aguerrida de Paula, de que os brasileiros estão miseravelmente desprotegidos em seu direito à privacidade por conta de uma justiça pateticamente impotente.