Paulinho da Força no 1º de Maio é sinal de que o campo progressista está de novo sendo atraído para a emboscada da história. Por José Cássio

Atualizado em 1 de maio de 2019 às 17:12
Paulinho da Força é uma brincadeira (Imagem: divulgação)

“Não se faz omelete sem quebrar ovos”.

Ok, você sempre poderá recorrer ao velho chavão para justificar, mas é bem desanimador ver Paulinho da Força confraternizando com Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Vagner Freitas, presidente da CUT, entre outros, no backstage do palco do Anhangabaú neste ato do 1º de Maio.

Bolsonaro conseguiu um feito inédito: juntar as centrais sindicais e, exceção de Ciro Gomes, as principais forças progressistas do país para protestar contra o desmonte dos direitos dos trabalhadores e especialmente da aposentadoria.

Mas, Paulinho da Força? O deputado que tramou contra a sociedade e liderou parte importante da farsa que levou ao impeachment de Dilma e deu início ao período mais tenebroso desde a redemocratização?

Ao Estadão, ele foi direto ao ponto.

“O que estamos discutindo dentro do Centrão é que precisamos fazer uma reforma que não garanta a reeleição de Bolsonaro”.

Cadê os interesses dos trabalhadores nessa declaração?

O líder do sindicalismo de resultados prosseguiu.

“R$ 800 bilhões garantem, de cara, a reeleição dele. Se dermos 800 (bilhões de reais) como disse ele, significa que nos últimos 3 anos dele (Bolsonaro, na Presidência), há (R$) 240 bilhões ao ano para gastar. Eu acho que temos de ter (economia) em torno de (R$) 500 bi. (R$) 600 (bilhões) seria o limite para essa reforma. Com esse discurso, tenho certeza que a gente traz todo mundo do Centrão, porque ninguém quer a reeleição de Bolsonaro”.

Semana passada, no Centro de Estudos Barão de Itararé, em entrevista a blogueiros e sites independentes, o governador da Bahia lamentava a prisão de Lula.

“É a maior injustiça que vi na minha existência”, disse um comovido Rui Costa, que se confessou surpreso com tanta traição ao ex-presidente. “Todos que se beneficiaram viraram as costas na primeira oportunidade que tiveram, uma coisa impressionante”.

Foi assim no mundo corporativo, no Congresso, no STF, no meio sindical com gente como Paulinho da Força e o resultado é que Lula está trancafiado sem nenhuma perspectiva de ver a luz do sol sob o mesmo ângulo das pessoas normais.

Enquanto isso, líderes que ralam todos os dias aceitam de bom grado um trago da branquinha da boa oferecida por Paulinho para ‘molhar a palavra’ e ‘azeitar’ o discurso contra Bolsonaro e o show de horrores que vai sendo orquestrado contra o país.

Lula disse certa vez que a esquerda é mais amistosa que a direita. Seu erro estava não na observação, mas nas decisões que tomou a partir dela.

Para ter uma ideia, enquanto presidente da República foi ele quem estimulou Gilberto Kassab a criar o PSD.

Não satisfeito, pediu ao então governador da Bahia, seu amigo de todas as horas, que ajudasse o ex-prefeito de São Paulo na empreitada.

Jaques Wagner gostou tanto da ideia que indicou o vice-governador do Estado, Otto Alencar, para integrar a primeira Executiva da sigla e ainda abriu as portas da sua bela casa em Salvador para brindarem a boa nova.

Nesta semana, Jair Bolsonaro informou que o governo fará o que for possível para manter Lula preso em Curitiba.

Por mais boa vontade que tenha, o presidente do STF, Dias Toffoli, já deu demonstração suficiente de que integra o grupo dos acovardados da Corte, como disse Lula semanas antes da farsa que levou ao impeachment de Dilma. Então, o que esperar?

Ao campo progressista não resta outro caminho que não seja enfrentar e combater. Mas é hora de encarar o adversário com convicção.

Combater para vencer, e fazer valer seus direitos, não para domesticar como talvez Lula tivesse sonhado um dia.

Nessa concessão utópica de cerrar fileiras com gente como Paulinho da Força no 1º de Maio quem está sendo de novo atraído para a emboscada da história são aqueles que não perdem a esperança num país mais justo e igualitário.

Errar uma vez, vá lá. Insistir já pode ser interpretado como masoquismo. Depois não adianta chorar como Rui Costa em sua falação aos blogueiros no Barão de Itararé.