Paulo Guedes, o aprendiz de feiticeiro, e seu “Big Bang”. Por Fernando Brito

Atualizado em 23 de agosto de 2020 às 8:05
Paulo Guedes, o aprendiz de feiticeiro, e seu “Big Bang”. Por Fernando Brito. Foto:: Reprodução/Tijolaço

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Sim, é esse o nome escolhido por Paulo Guedes para chamar, na intimidade o plano oficialmente chamado de Pró-Brasil, para fazer um afago no General Braga Neto, que ensaiou tornar-se o novo Posto Ypiranga da Economia e acabou por receber um “última forma” do capitão Bolsonaro.

Big Bang, como se sabe, é a teoria pela qual um átomo primordial, há 14 bilhões de anos, começou a se expandir até formar o que hoje chamamos de Universo. Modéstia pouca é bobagem, está a ver-se.

Os detalhes estão expostos em reportagem de O Globo e no Estadão, com uma diferença significativa: o primeiro diz que o “Renda Brasil” atingiria 8 milhões de famílias além das 14 milhões já atendidas pelo Bolsa Família e o jornal paulista fala que serão “8 milhões de pessoas a mais (cerca de 2,5 milhões de famílias)”.

Num caso, uma ampliação do Bolsa-Família em 60%, noutro, em 20%.

Em troca, os assalariados de baixa renda perderão o abono do PIS, o salário-família e os pescadores ficarão sem o seguro-defeso para as épocas de proibição de pesca.

Muito mais fácil na teoria que na prática, porque os dois primeiros são direitos constitucionais, que só podem ser revogados por 60% dos votos da Câmara e do Senado. No caso do abono, o “teste” feito durante a reforma da Previdência, quando também se queria aboli-lo nem sequer chegou a ser posto em votação: caiu na propria comissão especial.

Adiante: pretende-se a desoneração – patronal, claro – das contribuições previdenciária sobre contratos de trabalho com remuneração de um salário-mínimo, Não é preciso ser um bidu para ver que isso é um caminho aberto à fraude: um salário na carteira, isenção de contribuição e mais 100, 200, 500 reais “por fora” para “inteirar” o salário real.

Mas não está certo, ainda, que se apresentará na terça-feira, data do “Big Bang, também a compensação desta “bondade”: a nova CPMF, que a gangue palaciana não quer misturar com o “grande dia”.

Tudo é maroto e imprudente e podemos estar diante de um imenso desastre fiscal.

Pretender mudanças tão amplas no cenário incerto de uma recessão local e mundial, todas de uma só vez, e ainda misturadas com uma reforma tributária de resultado incerto e não sabido é coisa de aprendiz de feiticeiro.

Há, de fato, o cheiro de um “Big Bang” no ar. Mas no sentido explosivo, mesmo.