Pazuello obrigou soldado a puxar carroça no lugar de cavalo e hoje é o jumento de carga de Bolsonaro

Atualizado em 18 de dezembro de 2020 às 8:42
Pazuello, Bolsonaro e Zé Gotinha

O furo de Vinícius Segalla saiu no DCM em maio. 

No dia 11 de janeiro de 2005, o então tenente-coronel Eduardo Pazuello, hoje ministro da Saúde, obrigou um soldado sob seu comando a puxar uma carroça, atrelado ao equipamento no local destinado ao cavalo, e com um colega sendo transportado no banco, com todos os demais militares que serviam na unidade assistindo ao ato.

Era um castigo por indisciplina.

O que mereceria o hoje general — sim, o sujeito foi promovido — diante do descalabro promovido por sua pasta na pandemia?

Diz a matéria de Segalla:

O episódio se deu em Brasília, no Depósito Central de Munição do Exército, à época dirigido pelo então tenente-coronel (hoje, general) Eduardo Pazuello. O militar feito de animal de tração pelo ministro foi o soldado Carlos Vitor de Souza Chagas. O caso gerou um Inquérito Policial Militar (105/05), ao qual o DCM teve acesso, para se apurar maus tratos e perseguição ao soldado castigado.

Nos autos, Carlos Vitor Chagas afirmou que se sentiu humilhado e que se tornou alvo de piadas e xingamentos de seus colegas de farda, que foram obrigados a assistir ao espetáculo. O inquérito, porém, foi arquivado sem qualquer punição ao então tenente-coronel.

É que, quando foram depor no procedimento instaurado na Justiça Militar, os colegas do soldado, todos subordinados a Pazuello, foram unânimes em dizer que o atual ministro interino era uma pessoa íntegra e respeitosa, que jamais teve a intenção de humilhar o soldado feito de cavalo, mas tão somente impor disciplina à tropa. Também afirmaram que em nenhum momento caçoaram do soldado.

O inquérito foi então encaminhado para a Procuradoria-Geral da Justiça Militar. A então Procuradora-Geral, Maria Ester Henriques Tavares, considerou que não houve qualquer ato passível de punição por parte de Pazuello, conforme afirmou nos autos, em 12 de dezembro de 2005, julgando “perfeitamente natural o constrangimento” do militar punido:

As alegadas humilhações pelo caçoado de outros Soldados não ficaram demonstradas pelos demais militares ouvidos neste IPM. O sentimento de constrangimento que demonstrou o Soldado Carlos Vitor foi perfeitamente normal, quando circundou o gramado puxando uma carroça com um colega seu nela sentado.

MARIA ESTER HENRIQUES TAVARES
Procuradora-Geral da Justiça Militar

Festa com Pazuello, o ministro da Saúde, para comemorar as mortes de covid-19

A procuradora-geral chegou a “reconhecer excesso” por parte de Pazuello, mas não ao ponto de merecer qualquer punição, de acordo com o que fez constar em sua argumentação final pelo arquivamento do caso:

Se reconheço um excesso do Diretor do Depósito de Munição em sua maneira de efetivar uma atitude de correção e pedagógica ao soldado que trotava com a charrete dentro daquela Unidade Militar, por outro lado, reconheço que o referido Oficial não externou qualquer ato de perseguição.

A procuradora-geral explicou, ainda, que não poderia ser a intenção de Pazuello humilhar o soldado, já que coloca-lo para fazer o serviço de um cavalo, nos olhos do então tenente-coronel, poderia até ser uma forma de prestigiar o soldado, tamanho o amor do oficial pelos equinos.

Finalmente, além da prova desautorizar qualquer perspectiva de que o citado Oficial tivesse intenções de menosprezar CARLOS VITOR ou de lhe impor maus tratos, há aspectos pessoais da vida de Pazuello que demonstram sua familiaridade e, sobretudo, amor aos eqüinos, o que revela, mais uma vez, aspectos subjetivos de sua conduta ocorrida no dia 11 de janeiro de 2005, de sentido nitidamente orientador (…).