Pazuello orientou Bolsonaro a divulgar remédio proibido no Brasil durante a pandemia

Atualizado em 27 de agosto de 2025 às 11:42
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Durante a pandemia da Covid-19, o general Eduardo Pazuello orientou o então presidente Jair Bolsonaro a divulgar a proxalutamida, medicamento sem registro na Anvisa e proibido no Brasil. Além disso, Pazuello acompanhou a distribuição de comprimidos feita pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens da Presidência na época. Com informações do Estadão.

Segundo dados obtidos pela Polícia Federal (PF) no celular de Mauro Cid, Bolsonaro determinava a entrega do remédio a aliados, com supervisão direta de Pazuello. À época, o general já havia deixado o cargo de ministro da Saúde, ocupado entre maio de 2020 e março de 2021, mas continuava atuando como conselheiro do ex-capitão sobre a Covid-19.

Em 8 de abril de 2021, Pazuello enviou uma mensagem de WhatsApp a Cid, destinada a Bolsonaro, sugerindo que o presidente abordasse o medicamento em uma transmissão ao vivo.

“Fala PR. Acho que o sr. podia falar hoje na live sobre a Proxalutamida. O senhor abriria o assunto com uma fala ‘preparada’ e depois o Hélio entraria com as questões técnicas/científicas!! Tem muito político tentando aparecer e já estão tentando puxar o protagonismo para eles!!”, escreveu Pazuello.

As mensagens mostram que Bolsonaro seguiu a recomendação. Na live de 8 de abril, questionou um integrante do Ministério da Saúde sobre o tema: “Depois de contrair o vírus, tem que buscar medicamento. O que você teria a falar sobre a proxalutamida?”, disse o então presidente.

Horas antes, Pazuello já havia enviado a Cid um texto para servir como base da fala de Bolsonaro. Na mensagem, alegava que a proxalutamida havia sido usada em Manaus durante a crise do oxigênio, com supostos “bons resultados” — afirmação sem comprovação científica.

Entregas de comprimidos

As conversas também revelam a logística da distribuição. No dia 9 de abril, Pazuello perguntou a Cid sobre o andamento: “E ae?”. O tenente-coronel respondeu em áudio: “Em dez minutos vai estar comigo, general, o pacote”. Pouco depois, enviou a foto de uma sacola com “280 comprimidos”.

Pazuello, em áudio, pediu a Cid que ligasse para coordenarem o uso: “Quando você puder falar com calma, me ligue pra que a gente possa fazer um protocolo para o uso dessa medicação, tá bom? Vou te passar os contatos, etc, pra poder coordenar. Por favor, tô te esperando. Abraços”.

Em outro trecho, Cid perguntou se a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) havia autorizado o medicamento e se era possível sua compra pública. Disse que a dúvida partira de Bolsonaro. Pazuello respondeu que a Conep havia pedido correções e ainda iria reavaliar o tema.

Medicamento entregue a aliados

As mensagens também citam entregas da proxalutamida a políticos e aliados. Em 10 de abril, Cid pediu a Pazuello que coordenasse a entrega do remédio à família do deputado Luciano Bivar (União Brasil-PE). No dia seguinte, informou que outros dois nomes haviam recebido a substância.

“Força, general. Só pra passar pro senhor pro senhor ficar acompanhando, eu tô aqui em Goiânia e vim entregar o medicamento agora pro Uugton, é um empresário aqui dessas bandas sertanejas, e também pro irmão do Amado Batista. Tá, então já estamos com três pessoas pra fazer o acompanhamento aí. Força”, disse Cid em mensagem.