PCC domina “Disneylândia da prostituição” e impõe esquema de extorsão

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 12:44
Cinco envolvidos em extorsão na “Disneylândia da prostituição”. Foto: Divulgação/Polícia Civil

A Polícia Civil de Campinas investiga um esquema de extorsão e sequestros ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no Jardim Itatinga, conhecido como a “Disneylândia da prostituição”. Desde 2023, o bairro vem registrando uma série de crimes contra clientes de casas noturnas, muitos vindos de outras cidades do interior paulista.

Segundo a Folha de S.Paulo, o levantamento da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) aponta que membros da facção criminosa se infiltraram em boates e passaram a usar profissionais do sexo para atrair as vítimas.

O delegado Marcelo Fehr diz que os criminosos abordam os clientes nas ruas, onde as mulheres negociam os programas, cobrando valores entre R$ 70 e R$ 150. Quando as vítimas entram nas casas, são surpreendidas por homens armados e coagidas a pagar quantias muito maiores, de até R$ 5 mil.

Em alguns casos, nem chegava a ocorrer o programa. Além das transferências forçadas, os agressores roubavam celulares, carteiras e objetos pessoais.

A investigação calcula que a quadrilha movimentou pelo menos R$ 1,2 milhão em um ano apenas com as vítimas que registraram boletim de ocorrência. O número real, no entanto, deve ser bem maior, já que muitos clientes evitam denunciar por vergonha ou por estarem em relacionamentos estáveis. Quando decidem procurar a polícia, costumam omitir o envolvimento com a prostituição, o que dificulta a apuração.

Penitenciária com inscrição do PCC. Foto: Andressa Anholete/AFP

Em 15 de julho, a Polícia Civil e o Gaeco deflagraram uma operação que prendeu 12 pessoas ligadas ao PCC. Duas semanas depois, outro caso levou à prisão de cinco suspeitos: duas mulheres e três homens. De acordo com os investigadores, cerca de 25 integrantes do núcleo mais alto da facção coordenam as atividades no bairro, organizando desde o sequestro das vítimas até o repasse do dinheiro.

Os investigadores identificaram ainda cerca de cem pessoas que emprestavam contas bancárias para receber as transferências feitas pelas vítimas. Segundo o delegado Luiz Fernando Oliveira, o envolvimento do PCC em atividades como essa segue o padrão da facção, que busca novas formas de lucratividade e de lavagem de dinheiro, inclusive por meio da exploração sexual.

Mulheres que trabalham no bairro negaram a existência dos crimes, mas uma delas admitiu que o número de clientes caiu nos últimos meses. O Jardim Itatinga, que existe desde a década de 1970, vive hoje um período de decadência, marcado pelo avanço da prostituição online e pelo medo provocado pelas extorsões.

O delegado Fehr afirma que o bairro perdeu parte do movimento que o tornava um dos pontos mais conhecidos do país. Além das extorsões, há registros de exploração sexual de adolescentes, furtos e falsificação de bebidas.

Criado nos anos 1960 para concentrar a prostituição de Campinas, o Itatinga abriga hoje menos da metade das boates que já existiram, tornando-se símbolo da crise de um modelo que mistura ilegalidade e vulnerabilidade social.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.