PCC está mais violento com líderes elitizados e jovens “deslumbrados”; entenda

Atualizado em 21 de setembro de 2025 às 9:02
Membros do PCC durante rebelião em presídio. Foto: reprodução

A cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) ampliou seus negócios no tráfico internacional e passou a se infiltrar em setores da elite econômica, alcançando um status semelhante ao de máfia. Essa movimentação fez com que os líderes se afastassem das periferias, onde o grupo nasceu, e abriu espaço para que novas lideranças assumissem o comando local. Segundo policiais, autoridades e pesquisadores em reportagem do Uol, essa nova geração é vista como mais impulsiva, reativa e violenta, sem o mesmo vínculo com a ideologia original do PCC.

Moradores mais velhos de bairros periféricos de São Paulo relatam que os crimes voltaram a ser mais comuns, rompendo um período de aparente controle da violência exercido pelo PCC, sobretudo na redução de homicídios. A percepção é de que a situação lembra os anos 1990, quando a criminalidade atingia índices alarmantes.

Jovens associados à facção e responsáveis por biqueiras (pontos de venda de drogas) são descritos como mais independentes, sem seguir de forma rígida o estatuto interno.

Um ex-membro do grupo, hoje cabeleireiro na zona leste, afirma que antes roubos contra trabalhadores eram proibidos. “Hoje, em qualquer baile, cheio de irmão, o moleque tem que ficar ligeiro com o boné, com o tênis que tá usando. É quebrada roubando quebrada”, afirmou ao Uol.

Embora a geração mais nova assuma o cotidiano nas ruas, decisões de maior peso ainda passam pelos escalões superiores da facção. Um delegado da Polícia Federal explicou que homicídios planejados e julgamentos do chamado “tribunal do crime” precisam de aval da cúpula. Isso não significa, no entanto, que Marcola ou outros presos deem ordens para todos os crimes. Há hierarquia: chefes que atuam na Bolívia comandam parte da disciplina em São Paulo, mas também estão sujeitos a punições por atitudes isoladas.

Professores da Fundação Casa relatam que jovens apreendidos atualmente chegam “deslumbrados” com a facção. “Hoje, para muitos desses meninos, liberdade é ilusão sobre o dinheiro que acham que um dia vão ganhar na facção. É triste de ver, porque a culpa de eles não conseguirem enxergar outra perspectiva não é exclusiva deles”, afirmou um educador.

Pichação do PCC em casa do Tucuruci, zona norte da capital paulista. Foto: L.C. Leite/Folhapress

Desde 2020, a Polícia Federal já alertava para a presença de integrantes do PCC em setores da economia formal. Esse movimento ampliou o padrão de vida da cúpula e acentuou o afastamento da base, composta por detentos, moradores de favelas e periferias.

A organização diversificou negócios, expandiu territórios, fortaleceu esquemas de lavagem de dinheiro e criou novas regras de funcionamento. Enquanto líderes passaram a viver em bairros nobres, novos membros assumiram o controle nas comunidades, carregando visões próprias de mundo e sociabilidade.

“As novas gerações chegam nesses espaços com suas próprias visões de mundo, sociabilidades e ordenamento, criando conflitos. Não há mais o respeito, controle e ordem criminal do PCC ‘das antigas'”, afirmou Eduardo Dyna, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos.

Para Dyna, a expansão acelerada produziu um vácuo de liderança. Os mais velhos passaram a cuidar de negócios internacionais, deixando os mais novos responsáveis por gerir relações locais sem o aprendizado das práticas anteriores. A chamada “nova fase” teria começado em 2016, marcada por um racha entre Marcola e outros líderes como Tiriça, Andinho e Vida Loka.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.