PCC movimentou R$ 1 bilhão em fraudes com combustíveis, diz Receita

Atualizado em 25 de setembro de 2025 às 21:15
Agentes da Receita Federal durante a deflagração da Operação Spare, que investiga esquema de lavagem de dinheiro ligado ao PCC — Foto: Receita Federal/Divulgação.

A Receita Federal revelou nesta quinta-feira (25) que empresas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentaram mais de R$ 1 bilhão entre 2020 e 2024. As informações surgiram no âmbito da Operação Spare, deflagrada em São Paulo, como desdobramento da “Operação Carbono Oculto”, realizada em agosto. O alvo central é um operador que atua há mais de 20 anos no mercado de combustíveis paulista.

Segundo a Receita, o grupo utilizava postos de combustíveis, motéis e empresas de fachada para lavar dinheiro e ocultar patrimônio. Também foram identificados o uso de dinheiro em espécie e transações por meio de maquininhas ligadas a fintechs, estratégia que permitia o ingresso dos recursos ilícitos no sistema formal.

Com esses valores, os investigados adquiriram bens de alto valor, como um iate de 23 metros, dois helicópteros, um Lamborghini Urus avaliado em R$ 4 milhões, além de terrenos estimados em R$ 20 milhões. De acordo com a Receita, os bens rastreados representam apenas 10% do patrimônio real dos envolvidos.

Fachada do Motel Casual, em Santo André (SP), acusado de elo com o PCC. Reprodução

Mais de 60 motéis controlados pelo grupo, em nome de laranjas, movimentaram cerca de R$ 450 milhões, com lucro de R$ 45 milhões. Também foram encontrados indícios de lavagem em 21 CNPJs vinculados a 98 estabelecimentos de uma única rede de franquias.

Apesar do volume bilionário, as empresas emitiram apenas R$ 550 milhões em notas fiscais no período, pagando R$ 25 milhões em tributos federais — equivalente a 2,5% da movimentação financeira. O lucro para os criminosos teria chegado a R$ 90 milhões.

As investigações também identificaram a construção de 14 prédios residenciais em Santos, em 2010, que movimentaram R$ 260 milhões. Além disso, membros da família do principal alvo aumentaram em cerca de R$ 120 milhões o patrimônio declarado no Imposto de Renda.

A Operação Spare cumpriu 25 mandados de busca e apreensão em cidades como São Paulo, Santo André, Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. A estrutura de lavagem foi identificada a partir da concentração de empresas sob responsabilidade de um único prestador de serviços que formalmente controlava cerca de 400 postos, sendo 200 diretamente ligados ao alvo e seus associados.

De acordo com a Receita Federal, a ação é parte de um esforço conjunto de órgãos de fiscalização e combate ao crime organizado para desarticular redes de lavagem de dinheiro do PCC. A investigação segue em andamento para rastrear novos bens e possíveis envolvidos.