
Em uma conversa telefônica realizada na manhã de hoje, o presidente Lula abordou diretamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o combate ao crime organizado no Brasil. Embora a intenção dele fosse reforçar a cooperação binacional, a ligação também acabou tocando em estratégias adotadas por bolsonaristas radicados nos EUA, especialmente sob a liderança do deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Nos últimos dias, Eduardo Bolsonaro e seus aliados se reuniram com autoridades em Washington para tentar classificar facções criminosas brasileiras, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), como grupos terroristas.
Essa movimentação tem como objetivo pressionar o governo dos EUA a aplicar sanções mais severas contra essas organizações, algo que o governo Lula vê como um risco à soberania nacional. O movimento ocorre em paralelo às discussões sobre o recuo das tarifas de 40% impostas pelos EUA contra o Brasil, uma medida que já foi parcialmente flexibilizada.
Eduardo Bolsonaro teve ao menos duas reuniões com autoridades norte-americanas recentemente, uma delas na Casa Branca com a assessoria do húngaro-americano Sebastian Górka, responsável por contraterrorismo no National Security Council (NSC).
A outra reunião ocorreu com representantes do Departamento de Estado. Durante os encontros, o deputado entregou um relatório de 140 páginas elaborado por um delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
O documento sugere conexões financeiras entre o CV e alvos sancionados pela Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC), incluindo um vínculo com o grupo terrorista islâmico Al Qaeda.
O mesmo relatório foi entregue também pelo senador Flávio Bolsonaro, em parceria com o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, a diplomatas dos EUA.
A questão do narcoterrorismo transnacional, que envolve o tráfico de drogas e o financiamento de facções criminosas, tem sido uma prioridade nas discussões entre os dois países, especialmente após uma série de operações conjuntas.
Na ligação com Trump, Lula rememorou as recentes ações de seu governo no combate ao crime organizado, mencionando operações de combate à lavagem de dinheiro e contrabando de armas.
“Ressaltei a urgência em reforçar a cooperação com os EUA para combater o crime organizado internacional. Destacamos as operações realizadas no Brasil, que identificaram ramificações criminosas operando a partir do exterior”, disse o presidente brasileiro em suas redes sociais.

A resposta de Trump foi positiva, de acordo com Lula. “O presidente Trump ressaltou total disposição em trabalhar junto com o Brasil e que dará todo o apoio a iniciativas conjuntas entre os dois países para enfrentar essas organizações criminosas”, afirmou o presidente.
A movimentação bolsonarista nos Estados Unidos também foi alimentada por recentes informações sobre a apreensão de fuzis com inscrições das forças armadas da Venezuela, encontradas em posse de integrantes do CV durante a Operação Contenção, no Rio de Janeiro.
O fato foi incluído no relatório enviado a Washington e ajudou a aumentar a pressão para que as facções brasileiras fossem classificadas como grupos terroristas. No entanto, bolsonaristas nos EUA consideram os avanços nesse sentido tímidos.
A expectativa era que a ex-âncora da Fox News, Sara Carter, indicada por Trump para o cargo de “Drug Czar”, acelerasse a agenda, mas ela ainda não foi confirmada pelo Senado para o cargo. Desde o início de sua gestão, Trump tem utilizado o poder executivo para classificar cartéis de drogas como organizações terroristas.
Além do Cartel de Sinaloa, o governo dos EUA designou também o Cartel de los Soles, supostamente comandado pelo regime de Nicolás Maduro na Venezuela, como uma organização terrorista. A designação traz implicações financeiras, incluindo o congelamento de bens e a proibição de qualquer transação com os cartéis.
Essas classificações têm sido usadas pelos EUA para justificar ataques contra embarcações no Caribe e outras ações militares direcionadas a países envolvidos no tráfico de drogas.
O foco da política externa dos EUA na região tem sido, particularmente, a Venezuela, com os EUA manifestando a intenção de agir militarmente caso o tráfico de drogas continue a ser um problema na região. Além do combate ao crime organizado, a ligação entre Lula e Trump abordou a questão das tarifas comerciais.
Lula expressou satisfação com o recente recuo parcial das tarifas de 40% impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros. Ambos os presidentes concordaram em continuar a conversa em breve, sinalizando a importância das relações comerciais entre os dois países.
No entanto, segundo fontes do lado brasileiro, o assunto da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro não foi mencionado durante a conversa, o que reflete o distanciamento político entre o atual presidente brasileiro e os aliados de Bolsonaro nos Estados Unidos.