Pedro Cardoso sobre Era Bolsonaro: “Em que momento e de que modo nós nos fizemos um povo mal educado?”

Atualizado em 25 de fevereiro de 2020 às 15:57
Pedro Cardoso. Foto: Reprodução/Instagram

Publicado originalmente no perfil de Instagram do autor

POR PEDRO CARDOSO, ator

Quando nos defrontamos com as mazelas do Brasil, a solução apontada quase com unanimidade é sempre EDUCAÇÃO, não é verdade? Eu fico então me perguntando: Em que momento e de que modo nós nos fizemos um povo mal educado? Os habitantes daqui antes de os europeus chegarem eram eles sem educação? Os africanos trazidos a força para cá, o eram? É certo que não. Nem tampouco o português que aqui chegou era um deseducado.

Éramos, antes de nos encontrarmos, povos senhores de suas culturas. Mas no momento em que a européia julgou-se superior às outras e se impôs como dominante, passamos a ser deseducados dos saberes locais e africanos. A cultura européia, no entanto, é feita sob medida para o europeu. Quando forçada sobre o nativo e o africano, ela os veste mal. A piorar, a cultura europeia nem é oferecida na sua plenitude aos outros.

É-lhes ensinada na parca medida em que faça os outros minimamente capazes de realizar o trabalho físico que deles se retira. Ao povo brasileiro sonegamos as suas histórias e impomos a européia. A nossa má educação é sermos educados para uma educação que é apenas uma parte de nós. Somos complexos.

Por mais escolas que façamos, por mais gratuito que for o ensino, se a pedagogia empregada for a do opressor continuaremos mal educados; pois estaremos educados para sermos os oprimidos; sempre serviçais. Daí Paulo Freire, suponho eu, ter nomeado a sua pedagogia como sendo a do oprimido.

Sugiro pensarmos na educação que queremos e não apenas na científica judaico romano grega cristã que jamais nos vestirá a medida. Somos mais do que o ocidente. Somos locais e africanos também. Tomara a escola brasileira seja um dia igual ao Brasil.

Que seja a escola do encontro sem soberania de todas as culturas que nos formam. Não sei precisar a educação que teríamos mas diante da beleza do Cristo da Mangueira posso vislumbrar a força que teremos quando nos educarmos por nós mesmos.

Muita tentativa de nos educarmos direito tem sido feita. Será que é a ela que a extrema-direita chama de “marxismo cultural”?

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Bom dia. Quando nos defrontamos com as mazelas do Brasil, a solução apontada quase com unanimidade é sempre EDUCAÇÃO, não é verdade? Eu fico então me perguntando: Em que momento e de que modo nós nos fizemos um povo mal educado? Os habitantes daqui antes de os europeus chegarem eram eles sem educação? Os africanos trazidos a força para cá, o eram? É certo que não. Nem tampouco o português que aqui chegou era um deseducado. Éramos, antes de nos encontrarmos, povos senhores de suas culturas. Mas no momento em que a européia julgou-se superior às outras e se impôs como dominante, passamos a ser deseducados dos saberes locais e africanos. A cultura européia, no entanto, é feita sob medida para o europeu. Quando forçada sobre o nativo e o africano, ela os veste mal. A piorar, a cultura europeia nem é oferecida na sua plenitude aos outros. É-lhes ensinada na parca medida em que faça os outros minimamente capazes de realizar o trabalho físico que deles se retira. Ao povo brasileiro sonegamos as suas histórias e impomos a européia. A nossa má educação é sermos educados para uma educação que é apenas uma parte de nós. Somos complexos. Por mais escolas que façamos, por mais gratuito que for o ensino, se a pedagogia empregada for a do opressor continuaremos mal educados; pois estaremos educados para sermos os oprimidos; sempre serviçais. Daí Paulo Freire, suponho eu, ter nomeado a sua pedagogia como sendo a do oprimido. Sugiro pensarmos na educação que queremos e não apenas na científica judaico romano grega cristã que jamais nos vestirá a medida. Somos mais do que o ocidente. Somos locais e africanos também. Tomara a escola brasileira seja um dia igual ao Brasil. Que seja a escola do encontro sem soberania de todas as culturas que nos formam. Não sei precisar a educação que teríamos mas diante da beleza do Cristo da Mangueira posso vislumbrar a força que teremos quando nos educarmos por nós mesmos. Muita tentativa de nos educarmos direito tem sido feita. Será que é a ela que a extrema-direita chama de “marxismo cultural”?

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