Pen drive no banheiro de Bolsonaro intriga PF e levanta suspeita de esquema com criptomoedas

Atualizado em 18 de julho de 2025 às 15:08

Em meio ao pântano de investigações que encurrala o clã Bolsonaro, uma peça, até então mantida na penumbra dos inquéritos, pode ser a chave para desvendar um esquema de movimentação financeira. Fontes da Polícia Federal em Brasília adiantaram ao DCM informações sobre o pen drive escondido no banheiro do ex-presidente.

A hipótese que se desenha é que o dispositivo pode ser, na verdade, uma “cold wallet” – uma carteira fria de criptomoedas.

“Uma pessoa pediu para usar o banheiro, quando voltou, estava com o pen drive na mão. Eu nunca abri um pen drive na minha vida. Eu nem tenho laptop em casa para mexer com isso. A gente fica preocupado”, declarou Bolsonaro a jornalistas. Seu filho e comparsa Eduardo fala em “evidências plantadas”.

Parecem traficantes de drogas jogando cocaína na privada durante uma batida policial.

Para o cidadão comum, um pen drive serve para guardar fotos, documentos de texto ou apresentações. No submundo das finanças ilícitas, no entanto, sua função pode ser outra. Modelos de armazenamento de criptoativos em dispositivos offline são a ferramenta predileta para quem deseja lavar dinheiro e praticar evasão de divisas.

Milhões de reais, obtidos de fontes obscuras – como as famigeradas “rachadinhas” ou supostos esquemas de corrupção –, são convertidos em criptomoedas como Bitcoin (BTC) ou Ethereum (ETH). Uma vez digitalizado, o dinheiro perde seu rastro físico. O passo seguinte é transferir esses ativos digitais para uma “cold wallet”.

Diferente das corretoras online (hot wallets), que são conectadas à internet e rastreáveis, a carteira fria é um cofre offline. O pen drive, uma vez carregado com as chaves de acesso às criptomoedas, é desconectado da rede, tornando-se um fantasma para o sistema financeiro tradicional e para a Receita Federal.

Com esse dispositivo no bolso, uma pessoa pode cruzar fronteiras transportando fortunas sem que um único dólar seja detectado em scanners de aeroporto ou em contas bancárias. Ao chegar em um paraíso fiscal ou em países com regulação frouxa, como os Estados Unidos, basta conectar o pen drive a um computador, acessar os fundos e convertê-los novamente em moeda local. É a evasão de divisas em sua forma mais pura e tecnológica, um crime perfeito para a era digital.

É bom lembrar que ainda foram encontrados 14 mil dólares e 7 mil reais em dinheiro vivo.

A suspeita ganha força quando se observa o contexto. As investigações sobre a venda de joias e presentes oficiais nos Estados Unidos, operada por figuras de confiança de Bolsonaro, como seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, levantam uma questão óbvia: como o dinheiro dessas transações retornava ao Brasil ou era utilizado no exterior sem levantar alertas?

Teria o esquema de criptoativos servido para “limpar” esses valores? Seria essa a ponta do iceberg de uma estrutura montada para financiar a vida nababesca do clã no exterior e, quem sabe, para financiar atos antidemocráticos, longe dos olhos do Coaf e do Banco Central?

O que continha, afinal, o pen drive encontrado no banheiro? Seriam apenas arquivos pessoais ou as chaves criptográficas de uma fortuna digital? Se a Polícia Federal conseguir quebrar a criptografia do dispositivo – uma tarefa notoriamente difícil –, o que revelará?