Dados da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, compilados pelo sociólogo Rudá Ricci, traçam o perfil dos 356 terroristas presos em Brasília após os atos terroristas praticados no dia 8 de janeiro.
Foram 356 pessoas detidas e fichadas pela Polícia do Distrito Federal. Destes, 237 são homens e 119 são mulheres. Chama a atenção o fato da média de idade das mulheres ser mais alta do que a dos homens – 50 anos para elas e 47 anos para eles.
Conforme os dados compilados por Ricci, 86% nasceram entre 1960 e 1990 e 67% nasceram entre 1960 e 1980. Isso derruba um mito bolsonarista – apenas 15% deles eram adultos durante os 10 primeiros anos da ditadura instaurada em 1964.
“Entre as mulheres, o pico de nascimentos está entre 1965 e 1970”, diz Ricci. O sociólogo aponta uma hipótese sobre o porquê de gente tão idosa ter embarcado na tenebrosa aventura do bolsonarismo.
Ricci baseia sua teoria sobre os bolsonaristas no livro “Anatomia da destrutividade humana”, do psicanalista alemão Erich Fromm. No livro, Fromm tenta descobrir quais os perfis mais propensos a cometer violências ao receber um detonar psíquico – um apito de cachorro, no jargão psicológico.
“Um deles é o sádico, sempre à espreita para fazer maldades. O outro é acometido pelo tédio crônico”, afirma. Ambos estão presentes na tropa bolsonarista, mas Ricci aposta no segundo tipo para tentar entender as motivações de idosos com mais de 60 anos a destruir prédios governamentais e obras de arte históricas em Brasília no último domingo.
Em 2019, o Brasil contava com 33 milhões de pessoas acima de 60 anos – o contingente é maior do que o das crianças com menos de nove anos de idade. Em 10 anos, a idade média do brasileiro saltou de 29 para 34 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Tamanho salto em tão pouco tempo não permitiu o desenvolvimento de políticas públicas para esse segmento da população. Grande parcela desses idosos vive em tédio profundo. “Dia desses, ouvi de um grupo de terceira idade que não querem pegar ônibus para fazer sempre o mesmo programa no Circuito das Águas”, relatou ele.
“Muitos reclamam que são tratados com atividades padronizadas, repetitivas, sem emoção alguma. Enfim, Fromm sustenta que essas pessoas aguardam uma aventura que dê sentido às suas vidas”, explica o sociólogo.
Para Ricci, “muitos jovens não conseguirão digerir e racionalizar esses atos de vandalismo. O certo é que rompemos com certa noção de normalidade no Brasil. Deve ser assustador um netinho saber que sua avó foi presa porque depredou órgãos públicos e obras de arte”.
“Não será uma reversão de curto prazo. Essas pessoas vivem em regiões economicamente estagnadas ou imersas numa cultura de ostentação e hiperindividualismo. Nos estados de SC, PR, MS, e MG houve desindustrialização e expansão do agro”, explica.
De acordo com o sociólogo, há demanda por atividades sociais, culturais e esportivas para idosos. “Faltam políticas para a terceira idade. Muitos deles falam que em vez de bailinhos da terceira idade prefeririam um pacote para regiões vinícolas. São pessoas ativas e, muitos deles, com bom poder aquisitivo”, diz.
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