Perfil: o jornalista da Veja que inventou um pai para o filho de Mírian Dutra. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 20 de fevereiro de 2016 às 23:39
Um jornalista sem escrúpulos: Mario Sergio Conti
Um jornalista sem escrúpulos: Mario Sergio Conti

É tragicômica a participação do jornalista Mario Sergio Conti na trama que silenciou Mírian Dutra.

A comédia está em que Conti apareceu na entrevista que deflagrou o escândalo na revista Brasil com Z como Conde.

Ri imediatamente. Conheço a arrogância de Mario Sergio, e posso imaginar a raiva que ele sentiu. Paulo Henrique Amorim não perdoou. Rebatizou Conti como Conde.

A tragédia está naquilo que todos sabemos. Conti contribuiu na trama para silenciar Mírian e beneficiar FHC ao publicar uma nota mentirosa na Veja. Nela, estava dito que Mírian estava grávida de um biólogo.

Naquele instante, os meios jornalísticos e políticos tinham certeza absoluta de que o pai era FHC, então fingindo viver um casamento perfeito com Dona Ruth.

Se a história estourasse, provavelmente FHC estaria liquidado como aspirante à presidência. Você pode imaginar seu pavor, já que ele vivera uma experiência parecida quanto tentara a prefeitura de São Paulo. Uma resposta atrapalhada quando lhe perguntaram num debate se acreditava em Deus foi fatal naquela eleição.

Mario Sergio fez sua parte na sujeira para proteger FHC. Mírian contou que Conde, então diretor de redação da Veja, armou com FHC uma nota que daria um falso pai para a criança que ela carregava.

É preciso ser muito canalha para fazer uma coisa dessas, e Conde é.

Entramos na Veja mais ou menos na mesma época. Ele era detestado pelas pessoas com as quais trabalhava.

Uma vez, quando chefiava a seção de assuntos nacionais, ele esperou uma subordinada fazer todo o trabalho miúdo e exaustivo numa madrugada de sexta feira, quando a revista fechava, para mandá-la embora.

A vítima foi Miriam Leitão.

Era aquele tipo extremamente mal humorado que rosnava para os que lhe respondiam e se derramava numa risada ridícula quando o chefe Elio Gaspari contava qualquer piada.

Num vácuo que se formou, acabou substituindo Guzzo como diretor de redação. Guzzo o fez sucessor. Uma de suas primeiras providências foi publicar na Veja uma matéria em que Guzzo aparecia no meio de um “escândalo jornalístico” tão falso quanto a nota sobre Mírian.

Mais tarde, ele repetiria a infâmia no livro Notícias do Planalto.

Foi assim que ele respondeu ao homem que o pusera no comando daquela que era então a principal publicação brasileira.

Guzzo, com sua habitual espirituosidade, diria depois sobre o episódio: “Realmente sou ruim em fazer sucessor.”

Mario Sergio não sobreviveria muito tempo à própria incompetência. Era escandalosa a maneira como ele protegia os amigos. Insinuou-se, como alpinista social, no círculo de Roberto Marinho, e a Globo em seu tempo recebia tratamento majestoso. A adulação compensou: hoje ele faz entrevistas na Globonews.

As pessoas das quais não gostava eram punidas pelas páginas da Veja. Num momento de horror completo, ele mandou dizerem na revista que os livros de Caio Fernando Abreu não valiam as árvores derrubadas para produzi-lo.

Ele tinha mágoa da Folha, onde tivera uma passagem opaca como setorista de polícia, e se vingou proibindo mencionar o nome de Otávio Frias Filho. Uma peça de Frias estava em cartaz em São Paulo, Rancor. Na Veja São Paulo, a resenha da peça que aparecia no roteiro da revista omitia o nome do autor, por determinação de Conde.

Comigo, ele ficou com ódio quando soube que eu fora escolhido para sucedê-lo na Veja. Então eu era diretor da Exame. Ele vazou a informação para prejudicar o processo de sucessão e, na confusão que se armou, Roberto Civita recuou e optou por um veterano da Veja, Tales Alvarenga.

Ele era e é tão vingativo que conseguiu me incluir pejorativamente no livro Notícias do Planalto – um livro que tratava da queda do Collor, algo de que eu estava extremamente distante como editor de uma revista de negócios.

Mais recentemente, ele se notabilizou ao entrevistar durante a Copa num avião um falso Felipão como se fosse o real.

Para fazer o que a Veja fez com Mírian, era preciso um jornalista desprovido completamente de caráter.

Alguém como Mario Sergio Conti, o Conde.