Perfil por trás de BolsoFlix tem número do Canadá e foto possivelmente relacionada à Duquesa de Cambridge

Atualizado em 16 de maio de 2021 às 0:00
Reprodução

O internauta “Don Patito” foi às redes sociais neste sábado (15) para divulgar uma nota sobre o levantamento que fez sobre quem está por trás do site “Bolsoflix”, plataforma cria “conteúdos anti-Bolsonaro” que mostram as mentiras do presidente.

Ele levanta a suspeita de que a plataforma seja uma forma de obter dados. Ao pedir mais vídeos pelo Whatsapp, você se depara com um perfil com o número do Canadá e foto possivelmente relacionada à Duquesa de Cambridge, revela o internauta.

Confira a nota abaixo na íntegra:

Por que tomar cuidado com o “Bolsoflix”?

Durante a sexta, circulou muito no WhatsApp o link p/ o site “Bolsoflix”, que reúne conteúdo antibolsonaro e incentiva a pegar material de lá p/ compartilhar. Recebi de várias pessoas e algumas me perguntaram se era confiável. Fui fuçar.

O site é bem organizado, separado por temas e tudo mais, mas tem um porém: não deixa baixar nada diretamente do site. P/ pegar algo disponibilizado lá, você teria que enviar uma mensagem por WhatsApp p/ um certo número e eles te responderiam c/ o conteúdo que você escolheu.

Ao clicar em qualquer um dos botões “Receba no seu WhatsApp” que existem ao lado dos conteúdos, você é encaminhado pro WhatsApp com uma mensagem automática já preenchida referente ao tema escolhido. Ex.: “Olá! Gostaria de receber o vídeo Bolsonaro não quer te vacinar.”

Pesquisando sobre o número de telefone que aparece no WhatsApp, descobre-se que é um número do Canadá, mais especificamente da província de Alberta.

O perfil no WhatsApp não apresentava nenhuma informação que remetesse ao site até o início da noite, quando a descrição foi alterada (por volta das 19h). Já a foto de perfil é dessa moça sorridente.

Pesquisa reversa da foto p/ achar a origem não deu em nada. TinEye aponta resultado errado (do Generated Photos, que cria rostos c/ inteligência artificial) e Google Imagens diz que a pesquisa possivelmente é relacionada à Duquesa de Cambridge, Catarina, vulgo Kate Middleton.

Pesquisando o domínio do site, descobre-se pelo Whois que ele foi registrado em 25/03/2021 através da empresa canadense Tucows Domains, porém com endereço de contato em Charlestown, KN. Mas onde fica isso?

“KN” é o código ISO 3166 p/ Saint Kitts and Nevis, também conhecido como São Cristóvão e Neves, um arquipélago no Caribe que, segundo a Wikipedia, é o menor país das Américas, seja em extensão territorial ou em nº de habitantes. Charlestown é a principal cidade da ilha de Neves.

No site da Tucows Domains, ao consultar o provedor de domínio, encontra-se o e-mail de contato do provedor. Ao tentar o acesso ao site do provedor pelo domínio do e-mail (njal.la), encontramos a página da empresa Njalla.

A Njalla possui sede justamente em Neves, a ilha menor do arquipélago, e diz em seu site que é um serviço de registro de domínio “diferente”, exaltando sua preocupação com privacidade, anonimato e garantindo minimizar a visibilidade do cliente para o público.

Por que alguém usaria uma empresa registradora de domínio do Canadá e um provedor de domínio de uma ilha no Caribe para registrar um site que divulga os absurdos do presidente do Brasil?

A única certeza possível é que quem fez o site parece ter tido uma preocupação muito grande com a manutenção do anonimato. E isso é ruim? Não necessariamente. Na hipótese fantasiosa, é alguém que não sente necessidade de reconhecimento pessoal e preferiu permanecer desconhecido.

Na melhor das hipóteses, é alguém bem intencionado e preocupado com a própria segurança, tentando evitar perseguição por parte do governo e de seus apoiadores, dada a natureza do tema que trata e da reação que é capaz de despertar nos seguidores mais fanáticos e fiéis.

Já na hipótese precavida (e plausível), pode-se imaginar que alguém queira dissimular a origem e identidade do(s) responsável(is) pelo site com algum fim escuso: algum grupo político que enfrentaria rejeição de parte dos opositores do governo se o fizesse de maneira aberta, uma tática p/ obter nºs de telefone de pessoas contrárias ao governo p/ uso futuro e/ou uma tentativa audaciosa de golpe cibernético. O chamariz de disponibilizar conteúdo contrário ao presidente pronto p/ compartilhamento no conforto do WhatsApp serve bem a esta hipótese.

Serve tão bem que o link p/ o site correu pelas redes como um rastilho de pólvora, sendo compartilhado sem maiores questionamentos por muitas pessoas normalmente precavidas e até propagandeado por alguns veículos de imprensa (aparentemente sem nem mesmo simular o uso).

O mais intrigante de tudo é o uso do WhatsApp. Não o uso do aplicativo em si, mas uma peculiaridade no uso que talvez passe batido. Voltemos à melhor das hipóteses, em que seria apenas alguém indignado com o governo, bem intencionado e que quer se proteger no anonimato.

É fácil imaginar o porquê da opção pelo WhatsApp por uma questão bem lógica: bastante difundido e baixo custo. Colocar o conteúdo p/ ser baixado em um site que terá muitos acessos custaria muito mais. Repassar o conteúdo p/ uma lista de transmissão no WhatsApp é bem mais barato.

O fato de ser um nº de telefone do Canadá pode até causar estranheza num primeiro momento, mas é razoável pensar que seria alguém que reside por lá (até mesmo por causa do registrador de domínio do site ser uma empresa canadense).

O que realmente é muito estranho (apesar de parecer bobo) é o fato do perfil de WhatsApp ter a foto de uma pessoa. Se aparentemente há uma preocupação tão grande em manter o anonimato, há de se supor que a pessoa não colocaria uma foto pessoal, correto?

Pode ser apenas um descuido, mas é estranho imaginar que alguém que teve tanto cuidado para não deixar rastros capazes de identificá-lo cometeria um deslize desses. Ainda mais que a pessoa parece planejar isso há pelo menos dois meses, já que registrou o site em março.

Agora, se não é uma foto pessoal de quem criou o site, é a foto de uma outra pessoa (real ou criada por inteligência artificial). Se sim, por que colocar a foto de outra pessoa? P/ gerar credibilidade c/ o desavisado que entrou em contato atraído pelo site? Com que finalidade?

Por que não fez o que seria mais óbvio, utilizar como foto de perfil no WhatsApp o mesmo logo que usa no perfil do Vimeo (onde posta os vídeos disponibilizados no site)?

Enfim, respostas concretas só teremos mesmo quando o autor vier a público ou começarem a aparecer pessoas relatando os desdobramentos após terem arriscado mandar mensagem p/ o nº misterioso (ou quando os verdadeiros investigadores do Twitter se dedicarem ao assunto).

Atualização: Ontem à noite criaram um canal no Telegram. Na 1ª mensagem, de 20:33h, informam que derrubaram o zap deles. Entretanto, como eu havia guardado o link de encaminhamento, acessei aqui e o perfil no WhasApp permanece igual, com a mesma foto da moça e a mesma descrição.

Colocaram um banner no site no qual informam que estão de volta após ataques, atribuindo a tentativa de derrubar o site à reação bolsonarista, e convidando para acessar o canal no Telegram.

Às 23:07h, postaram mensagem no Telegram c/ link p/ todo o catálogo do Bolsoflix, dizendo que a pessoa vai preencher um formulário c/ e-mail e nº do WhatsApp. E fazem “jogo aberto” sobre a razão de pedir os dados: “Pra mandar mais vídeo. Pra formar e fortalecer redes anti Bozo.”.

Acessando o link, é possível ver que, além do e-mail e nº de telefone, o formulário ainda solicita o nome p/ encaminhar p/ “pasta com o catálogo completo”. Há mensagem que diz que contatarão quem fornecer os dados p/ saber se quer participar de grupos e listas de transmissão.

Ou seja, se antes já levantava desconfiança o fato de ter de fornecer seu nº de WhatsApp para um número misterioso com perfil esquisito para receber os conteúdos, agora piorou bastante: querem que você faça um cadastro completo!

No site, os botões, que antes eram “Receba no seu WhatsApp”, mudaram para “Baixe aqui o vídeo”. Ao clicar em qualquer um deles, você é redirecionado para o mesmo formulário que pede nome, e-mail e nº de telefone.

Hoje, às 14:43h, postaram uma mensagem no grupo do Telegram informando que a conta no Vimeo (onde disponibilizavam os vídeos) foi derrubada e solicitam ajuda, perguntando aos participantes do canal se conhecem alternativa ao Vimeo e ao YouTube que seja mais difícil de derrubar.

No site, os campos onde apareciam os vídeos postados estão sem imagem e com a mensagem “Desculpe este vídeo não existe”. Já a página da conta do Vimeo apresenta mensagem “Desculpe, não conseguimos encontrar essa página”.

Se arrumaram uma outra forma de disponibilizar o conteúdo completo em uma pasta para que as pessoas possam baixar, por que permanecer exigindo dados pessoais como nome, e-mail e telefone? No fundo, isso só reforça as suspeitas de quem imagina que seja uma forma de obter dados.