Persona non grata, Bolsonaro é rejeitado pelas principais lideranças políticas do Chile. Por Donato

Atualizado em 22 de março de 2019 às 11:47
Recepção calorosa de Bolsonaro no Chile

Antes de embarcar para o Chile nesta quinta-feira, Jair Bolsonaro ganhou um bolo e recebeu os parabéns de um punhado de fãs. Era seu aniversário.

No país andino, entretanto, é bom o presidente já ir se acostumando com outro tratamento, menos bajulador.

Populares agendaram uma manifestação para esta noite. Movimentos sociais como Coordinadora Nacional de Migrantes, Asociación de Familiares de Ejecutados Políticos, organizações feministas, e outros irão engrossar o caldo.

Mas não apenas civis estão descontentes com a visita: Um grupo de deputados confirmou presença no protesto contra a presença do presidente brasileiro. São pertencentes a vários partidos como o PC (Carmen Hertz), o DC (Matías Walker) e o RD (Maite Orsini).

E as manifestações de repúdio não param por aí.

A chamada Frente Amplio entregou ao presidente Sebastián Piñera uma petição solicitando que Bolsonaro seja declarado persona non grata.

A Frente, um conglomerado de partidos oposicionistas, manifestou ainda que nenhum dos políticos membros irá participar dos eventos de recepção a Bolsonaro, a quem consideram “um personagem que incita o ódio”.

Mas tem mais. E gente de peso.

O presidente da Câmara dos Deputados, Iván Flores, disse que boicotará o almoço oferecido pelo presidente Sebastián Piñera a Bolsonaro.

Iván Flores afirmou reconhecer que Bolsonaro foi eleito democraticamente e que, portanto, seja um representante legítimo do Brasil, mas não deixará de manifestar-se e posicionar-se.

“Quando um chefe de Estado emite declarações que acredito que menosprezem as condições de algumas pessoas, também estou em condições de emitir sinais políticos”. Traduzindo: quem fala o quer, ouve o que não quer.

“Cada vez que alguém fala ou faz algo, está emitindo sinais. E alguns sinais que (Bolsonaro) tem dado não são aqueles que gostaríamos de ver um chefe de Estado assumir”, declarou o parlamentar chileno.

Vários outros políticos aderiram ao boicote, especialmente após outro bolsonarista cometer bolsonarices.

Onyx Lorenzoni aproveitou o gancho da viagem do chefe ao Chile e deu mais uma demonstração da parvoíce que infecta essa equipe.

O ministro (da Casa Civil, veja só!) fez uma referência elogiosa ao “banho de sangue” imposto pelo general Augusto Pinochet.

“Não me lembro de declarações assim de um governo cujo mandatário pisou em solo chileno. Elas ofendem não só as vítimas das violações de direitos humanos, mas o país inteiro”, disse o presidente do Senado, Jaime Quintana, que declinou da homenagem a Bolsonaro também.

Nem o anfitrião direitista Sebastián Piñera aceita isso. O atual presidente chileno condena a ditadura e sempre faz questão de afirmar que votou pelo “não” no plebiscito que colocou fim ao regime de Pinochet.

Já Bolsonaro é aquele ser que conhecemos: idolatra a ditadura brasileira e elogia torturadores assassinos.

Não cabe condenar as decisões tomadas por Jean Wyllys ou Márcia Tiburi (ambos deixaram o país com receio por suas vidas), mas essa coragem de políticos chilenos de grande projeção – são presidentes da Câmara e do Senado – causa inveja.

O governo Bolsonaro tem sido o desastre previsto e ainda assim pouco se vê em termos de oposição combativa. Parece que estão esperando que morra de morte morrida. A opinião pública, pelo menos, já tem se manifestado e o índice de aprovação do presidente vai ladeira abaixo.

A viagem de Bolsonaro tem como objetivo principal criar um bloco de cooperação entre países sul-americanos de direita que pretendem sufocar os governos de esquerda. O alvo prioritário é a Venezuela, mas Uruguai e Bolívia já afirmaram que não participarão dessa ‘união’. Trata-se de um bloco meramente ideológico travestido de intenções comerciais, chamado de Prosul.

“A proposta é criar uma nova referência na América do Sul para uma melhor coordenação, cooperação e integração, livre de ideologias, aberto a todos e 100% comprometida com a democracia e com os direitos humanos”.

Parece ou não algo escrito pela equipe de Bolsonaro? Retórica simples com propósito enganador.

O que essas ‘autoridades’ brasileiras que elogiam banho de sangue e a economia do Chile deveriam aprender não está nem nos livros da escola nem nas cartilhas de finanças. Mas isso é algo que vem do berço.