Pesquisa aponta crescimento no apoio à inelegibilidade de Bolsonaro

Atualizado em 16 de novembro de 2025 às 15:56
O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

A nova edição da pesquisa “A Cara da Democracia” identificou uma mudança significativa na opinião pública sobre a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Em meio ao julgamento da trama golpista, mais brasileiros passaram a defender o afastamento do ex-presidente das urnas até 2030.

Segundo o levantamento, 52% dos entrevistados consideram a punição justa, percentual superior aos 45% registrados no ano anterior. O movimento indica que o tema ganhou força na sociedade durante o último ano político. O estudo realizou 2.510 entrevistas presenciais em todas as regiões do país entre os dias 17 e 26 de outubro.

A pesquisa é conduzida por especialistas de universidades como UFMG, Unicamp, UnB, Uerj e Enap, com financiamento do CNPq e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Os dados também mostram que a parcela dos que veem a punição como injusta caiu de 44% para 40%, enquanto os que não souberam responder passaram de 11% para 8%.

A inelegibilidade de Bolsonaro já prevista até 2030 deve se estender, uma vez que ele foi condenado por participação na trama golpista e deve enfrentar implicações adicionais da Lei da Ficha Limpa.

Perguntados sobre a possibilidade de anular a condenação, 53% rejeitaram essa hipótese, enquanto 40% disseram ser favoráveis. O levantamento também mediu a percepção sobre uma eventual anistia ao ex-presidente, tema discutido no Congresso. Nesse cenário, 33% apoiam e 53% se opõem.

Para Lúcio Renó, professor da UnB e integrante da equipe de pesquisa, os números mostram que, apesar da maioria dar respaldo à condenação, o núcleo bolsonarista se mantém mobilizado.

“Ainda existe, sim, uma parcela da população que acredita que Bolsonaro está sendo perseguido e que sua condenação faz parte de um plano orquestrado pelo Supremo Tribunal Federal. É importante destacar a resiliência desse movimento: uma parte expressiva dos bolsonaristas prefere negar as evidências e manter a defesa do ex-presidente”, afirmou.

Pesquisa do portal OGLOBO sobre anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

Os dados também revelam um cenário dividido sobre os desdobramentos do 8 de Janeiro. Embora 76% dos entrevistados desaprovem a invasão às sedes dos Três Poderes, as opiniões sobre as sentenças variam. Para 40%, as penas foram “exageradas”. Outros 41% consideram-nas “justas”, enquanto 11% as classificam como “leves demais”. A divisão evidencia que a avaliação das punições ainda desperta forte polarização.

O estudo também investigou a percepção sobre o tarifaço, rejeitado por 77% dos entrevistados. A responsabilidade pelo episódio foi atribuída a diferentes atores políticos: 21% citaram Bolsonaro, 14% o ministro Alexandre de Moraes, 13% Eduardo Bolsonaro e 12% o presidente Lula. Outros apontaram o STF como instituição (10%), o Congresso (4%), a imprensa (3%) ou nenhum dos citados (4%). Um total de 18% não soube responder.

O impacto das tarifas refletiu diretamente na imagem da direita ligada ao ex-presidente. Depois do tarifaço, a rejeição a Bolsonaro subiu de 49% em 2024 para 55% este ano. O mesmo movimento afetou aliados próximos. A desaprovação ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), passou de 33% para 44%.

Já Michelle Bolsonaro viu seu índice de rejeição avançar de 49% para 54%. Ambos chegaram a ser cotados para disputar a Presidência, mas indicam que devem concorrer à reeleição em seus respectivos cargos: governo paulista e Senado pelo Distrito Federal.

Em contrapartida, a rejeição a Lula manteve-se estável, oscilando de 40% para 41%. A porcentagem dos que dizem gostar ou gostar muito do presidente passou de 35% para 36%. A pesquisa também avaliou percepções sobre figuras internacionais e outros aliados da direita.

Segundo os dados, 55% afirmam não gostar ou gostar pouco do presidente americano, Donald Trump, enquanto 60% dizem o mesmo sobre Eduardo Bolsonaro, que defendeu publicamente as tarifas e articulou sanções americanas contra autoridades brasileiras. Não há dados comparativos de 2024 para esses dois políticos.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.