Pesquisa CNT/MDA revela que Haddad e Bolsonaro estarão no segundo turno e alguém precisa contar a Marina que ela morreu. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 30 de setembro de 2018 às 6:03
Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Fotos Públicas

A pesquisa CNT/MDA divulgada neste domingo revela que Fernando Haddad e Jair Bolsonaro deverão estar no segundo turno. Em relação à pesquisa anterior, realizada entre 12 e 15 de setembro, Haddad foi de 17,6 para 25,2% dos votos e Bolsonaro se manteve nos 28,2. Esta pesquisa, realizada entre 27 e 28 de setembro, mostra, portanto, empate técnico entre os dois, com Haddad em trajetória de alta.

Outros resultados: Ciro Gomes oscilou negativamente de 10,8 para 9,4, Alckmin foi de 6,1 para 7,3, Marina Silva caiu. Estava com 4,1% e agora tem 2,6, e está tecnicamente empatada com Henrique Meirelles, que oscilou de 1,7% para 2. Já Álvaro dias tinha 1,9% e agora tem 1,7%. Veja a pesquisa completa abaixo.

Além da confirmar que o cenário mais provável será o de segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, a pesquisa chama a atenção pela queda de Marina. A luta dela agora será para não terminar a corrida eleitoral atrás de Meirelles e Álvaro Dias, em sétimo lugar. Ou talvez oitavo, se João Amoêdo, do Novo, subir um pouquinho.

Em respeito ao passado que Marina teve — a senadora mais jovem a se eleger pelo Acre, ex-ministra do Meio Ambiente, política mundialmente conhecida pelo discurso ambientalista —, alguém precisa avisá-la de que ela morreu politicamente, e necessita de um sepultamento menos indigno.

Para isso, precisaria se realinhar às ideias de seu tempo e tentar fugir da armadilha em que se colocou, ao adotar um discurso parecido com o de Álvaro Dias e se apresentar como uma representante da Lava Jato.

Marina insiste em rotular Lula e o PT como protagonistas do maior esquema de corrupção do sistema solar, no momento que se apresenta como cristalina a ideia de que ambos foram alvos de uma campanha de perseguição, resultado da união do jornalismo de guerra da velha mídia com o ativismo político de setores do Ministério Público e do Judiciário.

O combate à corrupção é sempre uma boa bandeira eleitoral, mas, no caso da Lava Jato, esse discurso passou a emitir sinais de farsa.

Para Marina, uma farsa ainda maior, diante de um fato que lhe tira toda credibilidade: a foto dela tendo a mão beijada por Aécio Neves, no segundo turno da eleição de 2014.

O ocaso de Marina Silva deveria emitir um sinal de alerta para Ciro Gomes, o candidato do PDT, que também parece ter se perdido em meio à frustração por não ter do eleitorado a resposta que talvez esperasse.

Só o desespero explica a resposta que deu em uma entrevista coletiva sobre a absurda decisão do ministro Luiz Fux de proibir a entrevista de Lula e da publicação de qualquer declaração do ex-presidente dirigida à imprensa.

É uma decisão que, segundo juristas, afronta a Constituição. Mas Ciro a endossou.

Pareceu tão inverossímil que Ciro tivesse aderido ao pelotão de fuzilamento de Lula que era preciso verificar se houve, de fato, esta declaração.

E houve, está no site da CBN. Pode conferir. Diz Ciro:

“Eu acho que é uma aberração o Lula querer dar uma entrevista a 5, 6, 7 dias da eleição. Acho mesmo, francamente. O que o PT está querendo com isso?”.

Um repórter lembrou:

“A imprensa solicitou”.

“Sim, a imprensa solicitou também do cara que deu a facada no Bolsonaro… Há um limite. Um mínimo de civilidade no processo eleitoral. Vamos raciocinar exatamente assim… O PT adora um mimimi de vitimista. Mas vamos lá: o juiz autoriza o maluco lá que deu a facada no Bolsonaro, e um de vocês pergunta: Quem mandou você dar a facada? E ele diz: foi a turma do PT. E aí?

Um jornalista pergunta se a decisão de Fux não atentaria contra a liberdade de imprensa.

“É não, é não, liberdade de imprensa tem limite.”

Sim, a liberdade de expressão tem limite. Ninguém pode gritar “fogo” num cinema lotado, sob pena de provocar uma tragédia.

Mas não é este o caso — a entrevista a Lula foi solicitada, logo depois de sua prisão, pela Folha de S. Paulo, Rede TV e pelo DCM.

A juíza Carolina Lebbos negou, sob argumento de dificuldades de infraestrutura — a Superintendência da PF não teria espaço adequado para a entrevista.

É um argumento inidôneo, na expressão do ministro Ricardo Lewandowski, já que não é incomum que presos deem entrevistas, mas este não é o ponto.

É uma desonestidade intelectual comparar a entrevista de Lula com a de Adélio Bispo de Oliveira, que deu a facada em Bolsonaro.

Ciro Gomes poderia comparar Lula a Fernando Henrique Cardoso, que dá entrevista toda hora e expõe as suas preferências eleitorais, mas não com um homem perturbado mentalmente.

Ciro, para desgaste dele próprio, engrossa a corrente que concorda com a violência que significa retirar do ex-presidente o direito garantido pela Constituição de se expressar livremente. Já não bastava terem lhe tirado direito à liberdade e também o direito político de se candidatar a presidente?

É claro que Ciro está de olho no impacto eleitoral que uma entrevista de Lula teria. Mas não poderia haver também impacto eleitoral no que diz Fernando Henrique?

O que Ciro defende não é uma questão de princípio. É temor da força da palavra dita por Lula, incomparavelmente superior à de FHC.

Esta eleição se dá em torno de Lula, e assim será durante muito tempo, gostem ou não os adversários.

Por isso, Ciro Gomes deveria mirar um pouco adiante. Bem além do dia 7 de outubro. Para não correr o risco de se transformar numa Marina, hoje um zumbi político que vaga entre nós falando da Lava Jato.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com