Pesquisador vê Brasil tratado como “quintal dos EUA” após tarifaço e silêncio internacional

Atualizado em 6 de agosto de 2025 às 9:50
Manifestante segura cartaz contra a chantagem de Donald Trump e Jair Bolsonaro ao Brasil. Foto: Reprodução

O silêncio da comunidade internacional diante dos ataques de Donald Trump ao Brasil — com o aumento de tarifas e sanções ao Supremo Tribunal Federal (STF) — evidencia o risco de a América do Sul ainda ser tratada como “quintal dos Estados Unidos”. A avaliação é de Christopher Sabatini, pesquisador sênior da Chatham House, um dos principais centros de pesquisa do Reino Unido.

Segundo Sabatini, o mundo assistiu calado ao aumento de tarifas americanas sobre produtos brasileiros e à aplicação de sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes, com base na Lei Magnitsky.

“A gravidade do que está acontecendo não é apenas sem precedentes, mas muito séria. E, no entanto, a maioria dos líderes internacionais da Europa e de outros lugares segue em grande parte em silêncio diante do que é uma intervenção ou violação política flagrante, não apenas da soberania nacional, mas da integridade democrática das instituições”, afirmou à BBC News Brasil.

Segundo o pesquisador, o silêncio da comunidade internacional reforça a antiga percepção de que os Estados Unidos ainda exercem controle sobre a América do Sul, impedindo que outros países do Hemisfério Ocidental interfiram na região — ideia que remonta à Doutrina Monroe, formulada no século XIX.

“Isso reforça aquele tema muito perigoso de que a América Latina é o quintal dos EUA. E isso é lamentável, porque exige uma reação internacional mais ampla”, declarou.

Sabatini acredita que a postura isolacionista adotada por Trump criou um ambiente em que países deixam de reagir a violações para evitar atritos com Washington: “Muitos estão em disputas com os EUA ou não querem comprar briga com Trump, então adotam uma lógica de ‘cada um por si’”.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

Ele ressaltou que o mais preocupante é que essa ofensiva ocorra contra a maior economia da América Latina, o que revela o peso geopolítico da estratégia americana. Segundo ele, não existe cooperação internacional contra medidas abusivas do governo Trump.

A entrevista foi concedida após o ministro Alexandre de Moraes determinar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de desrespeitar medidas cautelares ao participar, por videochamada, de um ato público que pedia o impeachment do magistrado.

Para Sabatini, o apoio de Trump a Bolsonaro pode impulsionar o bolsonarismo, mas tende a desgastar o ex-presidente no médio prazo, especialmente se o impacto econômico das tarifas for sentido pela população.

O pesquisador acredita que o cenário pode favorecer o presidente Lula (PT), tanto internamente quanto no exterior, e abrir espaço para o surgimento de uma nova liderança à direita, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Ele também avalia que o agravamento da crise pode coincidir com momentos decisivos da política brasileira, como o julgamento de Bolsonaro no STF e as eleições presidenciais de 2026.

Sabatini aponta que uma escalada no conflito não está descartada, especialmente se houver condenação judicial do ex-capitão. Nesse caso, os EUA poderiam retaliar com novas sanções, inclusive contra integrantes do governo petista.

Para ele, uma solução para a crise não passaria por diálogo direto entre Lula e Trump, mas sim por freios institucionais dentro dos EUA.