
Quase dois anos após o início da ofensiva militar israelense, Gaza enfrenta uma das piores crises humanitárias de sua história recente.
Com severas restrições de acesso à região, a cobertura jornalística tem sido conduzida majoritariamente por repórteres palestinos, como Rami El Meghari, correspondente da Rádio França Internacional (RFI). Em meio a bombardeios, deslocamentos forçados e falta de insumos básicos, ele relata uma nova ameaça: a fome em larga escala.
“Hoje vemos pessoas desmaiando de fome nas ruas”, relata Rami, que também lida com a escassez de alimentos enquanto tenta manter seu trabalho. “Algumas crianças estão bebendo água com sal para aguentar. Não há comida, e o pouco que existe está fora do alcance de quase todos.”
Segundo ele, um quilo de farinha custa atualmente US$ 45 (cerca de R$ 250), o que representa uma fortuna para famílias que perderam tudo. Nos últimos meses, mais de mil palestinos foram mortos em filas de distribuição de alimentos, incluindo crianças.

Organizações humanitárias alertam para uma “fome generalizada” entre os mais de 2 milhões de habitantes de Gaza. O bloqueio total imposto por Israel em março — e parcialmente aliviado em maio — provocou escassez severa de comida, água, medicamentos e combustíveis.
A situação é agravada por ataques contra comboios de ajuda e pelo risco enfrentado por quem tenta receber alimentos. “É uma nação abandonada”, desabafa Rami. “Eles não têm o que comer.”
O jornalista Youssef Hassouna, da AFP, também denuncia a catástrofe humanitária. Ele perdeu mais de 40 quilos desde o início da guerra. “As crianças esperam até sete horas por um pouco de água. Eu ando 15 quilômetros por dia para reportar. Desgasto um par de sapatos por mês”, conta.
Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, 200 jornalistas já morreram em Gaza desde 2023. O governo de Israel nega responsabilidade e acusa o Hamas de criar e se beneficiar da crise. Enquanto isso, a população civil segue em colapso.
