Petra Costa e os 4 anos do golpe em Dilma: “Pergunto a todos os envolvidos — valeu a pena?”

Atualizado em 2 de setembro de 2020 às 16:16
Dilma Rousseff e Petra Costa. Foto: Reprodução/YouTube

Publicado originalmente na fanpage de Facebook da autora

POR PETRA COSTA, cineasta, a diretora de Democracia em Vertigem da Netflix

Você se lembra dos motivos alegados para o impeachment de Dilma Rousseff? Consegue pronunciar os nomes dos supostos crimes de responsabilidade de que ela foi acusada sem ficar constrangido?

Essa semana fez quatro anos do afastamento e, quando eu lembro as expressões “pedaladas fiscais” e “créditos suplementares”, não sei se rir ou chorar. Não importa a opinião que a gente possa ter sobre o governo Dilma, que certamente teve erros e acertos, defeitos e virtudes. A questão é outra. O que me resulta constrangedor é pensar nos motivos alegados para tirá-la do cargo – um constrangimento que fica ainda maior quando penso no atual governo, que comete um crime por minuto.

Quatro anos depois do impeachment, neste presente tenebroso em que a gente vive, com mais de 120.000 mortos, a democracia sob constante ameaça, a liberdade de imprensa atacada, gabinete do ódio, inimigos do presidente no exílio, mais generais no governo do que na ditadura, milícias no poder, Queiroz, Olavo, destruição da Amazônia, terraplanismo, fake news, fundamentalismo religioso, ameaças às liberdades individuais, homofobia, racismo, machismo, ataques constantes à cultura e à educação, serviços de inteligência paralelos espionando cidadãos, campanhas de difamação e destruição de reputação contra adversários do presidente… eu penso: “pedaladas fiscais” e “créditos suplementares” e, repito, não sei se devo rir ou chorar. É uma mistura de dor e vergonha que eu sinto como brasileira.

No documentário #DemocraciaEmVertigem, tentei apresentar ao Brasil e ao mundo os bastidores daquele processo, o primeiro passo do estranho caminho que nos trouxe até aqui. Tentei explicar o que estava acontecendo e mostrar a intimidade de Dilma, das pessoas que a defenderam e daqueles que a tiraram do poder. Tentei ir além do noticiário, dos discursos e do teatro, e mergulhar nas profundezas de Brasília para que a gente pudesse compreender o que realmente estava acontecendo.

Agora, quatro anos depois daquele fim, eu pergunto a todos os envolvidos: valeu a pena?