
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, reagiu à decisão do governo dos Estados Unidos de revogar seu visto. Em longa declaração, publicada nas redes sociais, ele atacou Donald Trump, criticou a política externa norte-americana, falou sobre genocídios na Colômbia e em Gaza e afirmou que não precisa da autorização para entrar no país. Abaixo, a íntegra da resposta:
A Humanidade está contra o genocídio e, na Colômbia, houve um genocídio contra o povo, quando alguns conservadores fascistas ordenaram que, a sangue e fogo, era preciso derrotar os liberais; e o genocídio continuou depois, aliado ao narcotráfico.
Nunca, em nenhum país do mundo, houve um controle da máfia sobre o Estado tão grande quanto o colombiano; nunca, jamais, em nenhum país do mundo, a máfia pôde fazer tantas leis e matar, a partir do próprio poder do Estado, centenas de milhares de camponeses e jovens.
Nunca, em nenhum lugar do mundo, a máfia conseguiu desalojar de suas terras milhões de camponeses. A governança narcotraficante que se construiu na Colômbia foi genocida.
Luis Carlos Galán denunciou isso e o assassinaram por isso. Aquele Galán que conheci pessoalmente, quando eu era jovem combatente do M19 — a quem disse que éramos irmãos — deve reviver na voz de seu ancestral, o comunero José Antonio Galán, esquartejado pelos castelhanos por ser rebelde.
Os responsáveis por esse genocídio tentam se abrigar sob o senhor, Trump, porque acreditam que o senhor protege os genocidas. Não se cerque de genocidas.
A humanidade pede que cesse o crime contra a humanidade em Gaza. Os israelenses viveram um ato de terror contra sua juventude num concerto, e houve mortos que não deveriam ter ocorrido. Mas a resposta não deve ser um crime contra a humanidade. Não podemos permitir que matem bebês em Gaza.
La Humanidad está en contra del genocidio y en Colombia, hubo un genocidio en contra del pueblo, cuando unos conservadores facistas ordenaron que a sangre y fuego, había que derrotar a los liberales, y continuó el genocidio después aliado al narcotráfico.
Nunca en ningún país…
— Gustavo Petro (@petrogustavo) September 27, 2025
Sua esposa, senhor Trump, ou suas filhas, deveriam lhe dizer que não está certo matar bebês. Minhas filhas me dizem isso.
Respeito sua família e disse ao senhor que tomaria um uísque, apesar da minha gastrite, em sua casa ou na minha, ou onde o senhor quiser, mas falando olho no olho, entre iguais, como homens e sem mentiras. O senhor não me respondeu.
Livre-se das ideias equivocadas de seus conselheiros; veja a humanidade com clareza e o que acontece. Não se faz um grande país matando bebês indefesos.
Agora vão transformar em crime a minha opinião livre e humana. O senhor sabe que as leis internacionais me dão imunidade para ir à ONU e que não deve haver represálias por minha opinião livre, porque sou um ser livre.
Não devem cair mísseis sobre a população civil de Gaza. Não devem cair mísseis sobre os jovens pobres a serviço do narco ou sobre os camponeses que procuram sobreviver. Não devem cair mísseis sobre os migrantes que saem porque não suportam a pobreza. Os migrantes não são criminosos e não merecem pena de morte; fazê-lo é um crime contra a humanidade.
Afaste-se, Trump, de Hitler — ainda há tempo. Eu rezei pelos soldados dos EUA que, na batalha da Linha Gótica, perto de Florença, a cidade do Renascimento, na Itália, morreram pela liberdade. Orei em seu cemitério de campanha.
Não mate a liberdade; meus ancestrais viveram há 30.000 anos na América e construíram línguas, arte e civilização. Seus ancestrais chegaram há apenas um século, mas isso não importa; o senhor é bem-vindo na América, terra da liberdade, e no país de Bolívar: a Grande Colômbia. Não se proibirá que qualquer cidadão dos EUA entre porque somos livres. Mas nenhum criminoso de guerra, muito menos um criminoso contra a humanidade, entrará.
Não mais Auschwitz, por petróleo; no meio dos negócios, há tempo para o amor e para a humanidade, diz a Bíblia.
Libere-se, Trump, dessa escravidão que perdurará por gerações.
Digo — e não é crime — que não se obedeçam as vozes que ordenam aos seus exércitos disparar contra a humanidade.
Sou, além de colombiano e orgulhoso do meu país, que amo por sua enorme beleza tropical, seu mar, suas montanhas e suas culturas, tão belas como a natureza, um cidadão europeu. Não preciso de seu visto, mas irei somente quando for convidado por seu povo.
Nem sequer preciso viajar; a Colômbia é o coração do mundo, e em suas terras há seres humanos que têm em suas veias todos os povos do mundo, e posso distinguir seus ancestrais. Posso conhecer o mundo viajando pelo meu país.
Antes de sair de Nova York, entrei em um centro comercial, e as mulheres negras e brancas dos EUA colocavam a mão no peito quando me viam e me reconheciam — povo lindo e livre; não o amedronte com fuzis, senhor Trump. Bolívar disse: maldito o soldado que levanta a arma contra seu povo; eu lhe digo: não ordene levantar as armas de seu exército contra a humanidade, porque a humanidade responderá.
Se há um crime contra a humanidade, a humanidade deve responder, e a Colômbia com Bolívar responde.
Nem um passo atrás.