Petrobras volta a impor limitações à alimentação de dirigentes que ocupam sede no RJ. Por Lu Sudré

Atualizado em 8 de fevereiro de 2020 às 22:27
Ato em frente à sede da Petrobrás no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (7) – Foto: Clívia Mesquita / Brasil de Fato

Publicado originalmente pelo Brasil de Fato:

POR LU SUDRÉ

Dirigentes da Federação Única dos Petroleiros (FUP) que ocupam uma sala no 4º andar da sede da Petrobras no Rio de Janeiro há 8 dias, foram informados na manhã deste sábado (8) que não poderão mais deixar a sala para pegar os alimentos trazidos por apoiadores. A empresa alega que fará o transporte dos alimentos.

Anteriormente, um dos sindicalistas do grupo era deslocado para buscar a alimentação trazida por integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), na entrada da sede.

Outras restrições do tipo já haviam sido colocadas pela empresa. No dia seguinte à ocupação, que aconteceu em 31 de janeiro, a petrolífera proibiu a entrada de alimentos, assim como o fornecimento de água e energia no andar onde os trabalhadores estavam. Além disso, entrou com ação na Justiça com o objetivo de retirar os sindicalistas da sede. Entretanto, a reintegração foi negada pela juíza Rosane Ribeiro Catrib, da Justiça do Trabalho, e os serviços restabelecidos após a decisão.

A ocupação e a greve dos petroleiros, que já atinge 89 unidades do Sistema Petrobras e conta com milhares de trabalhadores em todo o país, de acordo com cálculo da FUP, acontece em resposta ao fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Farfen-PR) e a consequente demissão de mil trabalhadores. O movimento exige a revisão das demissões e denuncia que a Petrobras não cumpriu o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).

Em entrevista ao Brasil de Fato, Deyvid Bacelar, petroleiro que integra a Comissão de Negociação Permanente e participa da ocupação, afirma que além de impor limitações à alimentação dos dirigentes, a segurança também foi intensificada em frente ao local.

“A gestão da empresa, que não negocia, que é truculenta e arbitrária, aumentou a quantidade de seguranças na porta da sala. Temos 5 seguranças que estão restringindo o nosso acesso, mais uma vez, à alimentação”, denuncia Bacelar.

O dirigente reprova a decisão de que o transportes dos alimentos seja feito por parte da empresa. “É óbvio que não vamos confiar na gestão da empresa ou nos seguranças que estão cumprindo tarefa porque alguma coisa pode ocorrer. Eles estão doidos para que saiamos daqui. Podem colocar algum tipo de medicação ou produto que dê diarreia, por exemplo, a pessoa fique doente e tenha que sair”, alerta.

Para Bacelar, a restrição é uma estratégia da empresa para minar o movimento.

“É mais uma evidência explícita, esse é o modus operandi da gestão bolsonarista da Petrobras, que segue orientação de amigos de milicianos, apesar de decisão judicial em primeira e segunda instância, ter reconhecido que nossa ocupação é legal, legítima e que estamos literalmente sentados em mesa para negociar”.

A reportagem do Brasil de Fato solicitou posicionamento e esclarecimentos para a Petrobras por meio de sua assessoria de imprensa, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.

Contratação emergencial

A Petrobras anunciou, na noite desta sexta-feira (7), que está iniciando a contratação imediata de pessoas e serviços para garantir a continuidade operacional em suas unidades durante a greve. A empresa alega que a ação foi autorizada pela Justiça “em decorrência do descumprimento do contingente mínimo pelos sindicatos”.

Gerson Castellano, petroleiro que trabalha na Fafen e dirigente da FUP, critica o posicionamento. “Não tem tanta gente disponível no mercado por ser uma área ultra especializada. A nossa preocupação é com o risco que a Petrobras vai estar impondo para quem estiver lá dentro e para a comunidade em todo o entorno. É algo absolutamente temerário, pegar pessoas que não conhecem o sistema e colocar para operar e produzir, Não é só a questão política de querer frustrar a greve, é a questão da segurança que está em jogo agora”, alerta.

Em vídeo publicado no mesmo dia do anúncio, Roberto Castello Branco, presidente da petrolífera, recorreu à rede de comunicação interna da empresa e pediu que os grevistas retomem as atividades.

“Peço aos empregados que aderiram à greve que reflitam e retornem ao trabalho. Sua presença e participação são extremamente importantes para o futuro da Petrobras. As pessoas são a joia da coroa dessa companhia”, disse Castello Branco. Ele afirmou ainda que a paralisação tem “evidentes objetivos políticos”.

Para Gerson, a declaração “é uma incoerência total”. [08.02] Gerson Castellano – Lu Sudré  “Ele resolve mandar embora mil trabalhadores, são mil famílias que vão perder o seu sustento, e faz esse discurso mal feito. Isso mostra como a greve está atingindo a Petrobras, por mais que ela tente frustrar juridicamente, por meio do assédio e da pressão. Está sendo uma greve histórica. Vai entrar para a história”, avalia o petroleiro.

O dirigente da FUP reforça que a greve, diferente de outros momentos, não é por salário ou por benefícios, e sim por emprego. “É para que se respeite o acordo, a vida de todas as pessoas que estão lá”, frisa.

Ele complementa que a paralisação cresce cada vez mais porque os trabalhadores de outras unidades e subsidiárias da Petrobras compreendem que o processo de fechamento da Fafen pode se estender por todo o sistema da estatal.