PF avalia que minuta na casa de Torres era “última versão” em trama golpista

Atualizado em 16 de março de 2024 às 10:20
Anderson Torres e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

Investigadores da Polícia Federal (PF) afirmam que o documento descoberto na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres em janeiro do ano passado possivelmente representava a versão final de uma série de minutas golpistas discutidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, conforme informações da Folha de S.Paulo.

De acordo com a PF, o texto encontrado na casa de Torres consistia em um esboço de decreto destinado a permitir que Bolsonaro decretasse estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo seria reverter o resultado da eleição vencida pelo presidente Lula (PT).

Torres foi recentemente exonerado do cargo de secretário da Segurança do Distrito Federal por falhas no planejamento de segurança no dia 8 de janeiro de 2023. Ele foi alvo de um mandado de busca e apreensão no contexto da investigação da PF, que visava descobrir possíveis ligações entre ele e os ataques aos três Poderes.

A PF suspeitava que a minuta encontrada na casa de Torres pudesse ser uma das versões discutidas por Bolsonaro com comandantes militares e aliados, conforme a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-mandatário.

Essa suspeita ganhou força após o depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e do brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica.

O ex-comandante do Exército informou à PF que a minuta golpista encontrada na casa de Torres era a mesma versão apresentada por Bolsonaro aos chefes das Forças Armadas em uma reunião realizada em dezembro de 2022.

“Que confirma que o conteúdo da minuta de decreto apresentada foi exposto ao declarante nas referidas reuniões. Que ressalta que deixou evidenciado a Bolsonaro e ao ministro da Defesa [general Paulo Sérgio Nogueira] que o Exército não aceitaria qualquer ato de ruptura institucional”, registra o termo de depoimento do general.

Já o brigadeiro Baptista Júnior reforçou o envolvimento de Torres no processo e explicou à PF que o papel do então ministro durante uma reunião de Bolsonaro com os chefes militares, na qual foi debatida uma minuta golpista, era fornecer embasamento jurídico ao conteúdo do decreto.

“Que Anderson Torres chegou a participar de uma reunião em que os comandantes estavam presentes. Que até procurava pontuar aspectos jurídicos que davam suporte às medidas de exceção (Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e estado de defesa). O papel do ministro na referida reunião foi de assessorar o então presidente Jair Bolsonaro em relação às medidas jurídicas que o Poder Executivo poderia adotar no cenário discutido”, relatou o ex-comandante da Aeronáutica, segundo depoimento.

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Anderson Torres e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução