
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta quarta-feira (29) que a corporação não foi comunicada oficialmente sobre a operação que se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro. Segundo ele, o contato ocorreu apenas “em nível local”, sem informações detalhadas sobre o planejamento da ação, que deixou mais de cem mortos nos Complexos do Alemão e da Penha.
“Houve um contato do pessoal da inteligência da Polícia Militar com a nossa unidade no Rio de Janeiro, para avaliar uma possível colaboração em algum ponto, mas não recebemos detalhes do que seria feito”, disse Rodrigues, após reunião com o presidente Lula.
“Entendemos que aquele não era o modo como a Polícia Federal atua em suas operações.” A falta de comunicação entre o governo do estado e o Executivo federal é um dos principais pontos de atrito após a megaoperação.
O presidente Lula, que estava em voo de retorno da Ásia quando os confrontos ocorreram, foi informado sobre a tragédia ao desembarcar em Brasília. De acordo com o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o presidente ficou “estarrecido” com o número de mortes e “surpreso” pela ausência de coordenação.
Fontes da Polícia Federal afirmam que o único pedido feito pela Polícia Militar foi o de disponibilização de efetivo, sem envolvimento em tarefas de inteligência ou apoio logístico.
“O colega do Rio de Janeiro informou, no seu contato operacional, que a Polícia Federal segue o seu trabalho de investigação, de polícia judiciária, de inteligência, mas que naquela operação, que é do Rio de Janeiro, nós não teríamos nenhuma atribuição legal para participa”, explicou Rodrigues.
Diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues diz que equipe do RJ avaliou que não fazia sentido participação em megaoperação no Rio. "A deflagração dessa operação não nos foi comunicada". #Estúdioi
➡️ Assista à #GloboNews: https://t.co/yAMjf4cw3V pic.twitter.com/2PGzN9pN5Y
— GloboNews (@GloboNews) October 29, 2025
Lewandowski reforçou que o procedimento adequado não foi seguido. “Uma operação dessa magnitude não pode ser articulada em níveis inferiores de comando. O diálogo entre o governador e o governo federal deve ocorrer diretamente entre autoridades de alta hierarquia”, afirmou.
Segundo o ministro, a ausência dessa comunicação impediu que o governo federal oferecesse informações e suporte operacional. Enquanto as forças de segurança ainda contabilizavam os mortos, moradores relatavam dezenas de corpos levados à Praça São Lucas, no Complexo da Penha.
O número de vítimas já ultrapassa 100, segundo levantamentos preliminares. A operação, conduzida sem aviso prévio a Brasília, aumentou as tensões políticas entre o Planalto e o governo fluminense. Pelo menos oito ministros participaram da reunião convocada por Lula no Palácio da Alvorada para discutir a crise.
Parte da equipe, incluindo Lewandowski, as ministras Anielle Franco (Igualdade Racial) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e o próprio Rodrigues, viajará ao Rio para uma reunião emergencial com o governador Cláudio Castro (PL).
Segundo interlocutores do governo, Lula ainda não conversou diretamente com Castro, mas a postura do governador irritou o Planalto. A avaliação é de que ele agiu de forma “imprudente e eleitoreira”, conduzindo uma ação de alto risco sem informar o governo federal e, em seguida, criticando a falta de apoio. Lewandowski afirmou que a decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) não foi discutida, pois a iniciativa cabe exclusivamente ao governador.