PF diz que não foi avisada oficialmente sobre operação policial no Rio de Janeiro

Atualizado em 29 de outubro de 2025 às 15:09
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Foto: Divulgação

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta quarta-feira (29) que a corporação não foi comunicada oficialmente sobre a operação que se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro. Segundo ele, o contato ocorreu apenas “em nível local”, sem informações detalhadas sobre o planejamento da ação, que deixou mais de cem mortos nos Complexos do Alemão e da Penha.

“Houve um contato do pessoal da inteligência da Polícia Militar com a nossa unidade no Rio de Janeiro, para avaliar uma possível colaboração em algum ponto, mas não recebemos detalhes do que seria feito”, disse Rodrigues, após reunião com o presidente Lula.

“Entendemos que aquele não era o modo como a Polícia Federal atua em suas operações.” A falta de comunicação entre o governo do estado e o Executivo federal é um dos principais pontos de atrito após a megaoperação.

O presidente Lula, que estava em voo de retorno da Ásia quando os confrontos ocorreram, foi informado sobre a tragédia ao desembarcar em Brasília. De acordo com o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o presidente ficou “estarrecido” com o número de mortes e “surpreso” pela ausência de coordenação.

Fontes da Polícia Federal afirmam que o único pedido feito pela Polícia Militar foi o de disponibilização de efetivo, sem envolvimento em tarefas de inteligência ou apoio logístico.

“O colega do Rio de Janeiro informou, no seu contato operacional, que a Polícia Federal segue o seu trabalho de investigação, de polícia judiciária, de inteligência, mas que naquela operação, que é do Rio de Janeiro, nós não teríamos nenhuma atribuição legal para participa”, explicou Rodrigues.

Lewandowski reforçou que o procedimento adequado não foi seguido. “Uma operação dessa magnitude não pode ser articulada em níveis inferiores de comando. O diálogo entre o governador e o governo federal deve ocorrer diretamente entre autoridades de alta hierarquia”, afirmou.

Segundo o ministro, a ausência dessa comunicação impediu que o governo federal oferecesse informações e suporte operacional. Enquanto as forças de segurança ainda contabilizavam os mortos, moradores relatavam dezenas de corpos levados à Praça São Lucas, no Complexo da Penha.

O número de vítimas já ultrapassa 100, segundo levantamentos preliminares. A operação, conduzida sem aviso prévio a Brasília, aumentou as tensões políticas entre o Planalto e o governo fluminense. Pelo menos oito ministros participaram da reunião convocada por Lula no Palácio da Alvorada para discutir a crise.

Parte da equipe, incluindo Lewandowski, as ministras Anielle Franco (Igualdade Racial) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e o próprio Rodrigues, viajará ao Rio para uma reunião emergencial com o governador Cláudio Castro (PL).

Segundo interlocutores do governo, Lula ainda não conversou diretamente com Castro, mas a postura do governador irritou o Planalto. A avaliação é de que ele agiu de forma “imprudente e eleitoreira”, conduzindo uma ação de alto risco sem informar o governo federal e, em seguida, criticando a falta de apoio. Lewandowski afirmou que a decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) não foi discutida, pois a iniciativa cabe exclusivamente ao governador.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.