
O delegado da Polícia Federal Fábio Shor afirmou ao Supremo Tribunal Federal que a apreensão de uma minuta golpista na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres causou forte apreensão entre os integrantes do núcleo bolsonarista investigado por tentativa de golpe. Segundo Shor, o documento levou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro a demonstrarem preocupação imediata com a exposição do plano.
Em depoimento como testemunha, Shor relatou que Bolsonaro compartilhou o conteúdo com Mauro Cid, que então procurou Filipe Martins e Marcelo Câmara. O delegado foi indicado pelas defesas desses dois assessores e prestou informações sobre os bastidores do inquérito conduzido pela PF. A minuta sugeria instaurar estado de defesa na sede do TSE, medida que seria assinada por Bolsonaro.
A descoberta do documento, feita em janeiro de 2023, é tratada pela PF como a versão final do plano golpista. Segundo o delegado, o objetivo da trama incluía uma ação do PL na Justiça Eleitoral, com base em informações falsas. A conexão entre o partido e o conteúdo da minuta reforça a tese de que a ação judicial não foi um movimento isolado, mas parte de uma estratégia mais ampla para desacreditar o resultado das eleições de 2022.

Filipe Martins também foi citado por Shor no contexto de uma viagem aos Estados Unidos no fim de 2022, quando Bolsonaro deixou o Brasil. A defesa do ex-assessor contestou a inclusão de seu nome entre os passageiros da comitiva. No entanto, a PF afirma que ele utilizou um passaporte declarado como extraviado para registrar entrada em solo americano na mesma data e local de chegada do ex-presidente.
O uso desse documento foi um dos fundamentos que levaram o ministro Alexandre de Moraes a decretar sua prisão preventiva no início de 2024. Segundo o delegado, a ida ou não de Martins aos EUA não foi o ponto central do relatório, mas somou-se a outros indícios de tentativa de obstrução da aplicação da lei penal. O ex-assessor passou seis meses preso.
Shor, que foi alvo de ataques públicos de bolsonaristas, incluindo Eduardo Bolsonaro, afirmou ainda que os atos investigados apontam para uma tentativa organizada de interferir no processo democrático e evitar a posse do presidente eleito. A apuração segue sob supervisão do STF e é uma das frentes mais avançadas da investigação sobre os eventos de 2022.