
Anotações manuscritas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apreendidas pela Polícia Federal (PF) durante operação de busca e apreensão em julho, revelam referências diretas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conforme informações do Metrópoles.
Os papéis foram encontrados sobre a mesa do ex-presidente na sede do Partido Liberal, em Brasília, e mencionam expressões como “DT e JB”, “Trump e equipe validaram o convite”, “JB alinhado DT” e “JB — Trump — Último”.
De acordo com investigadores, a anotação “JB — Trump — Último” sugere que Bolsonaro se vê, ao lado de Trump, como um dos “últimos líderes” de uma corrente política conservadora global.
Outra anotação traz o termo “Lawfare — ativismo judicial”, expressão usada por apoiadores de Bolsonaro para denunciar o que consideram o uso político do sistema de Justiça. O ex-presidente frequentemente recorreu a esse argumento ao afirmar ser vítima de perseguição judicial.
Inelegibilidade e críticas ao Judiciário
Entre os registros também aparece a frase “JB – + popular do BR cuja exclusão p/26 é afronta aos princípios democráticos”, que, segundo investigadores, pode se referir à inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A PF avalia que o trecho expressa a visão de Bolsonaro de que a decisão do tribunal teria representado uma interferência do Judiciário no processo político.
Alusões ao 6 e 8 de janeiro
Outras anotações incluem “06/08 – jan” e “tiro x facada”. A primeira seria uma referência ao 6 de janeiro de 2021, quando ocorreu a invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, e ao 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro atacaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Ambos os episódios são frequentemente comparados em discursos e grupos bolsonaristas.
Sem valor probatório, mas com peso simbólico
Para a PF, as anotações refletem paralelos simbólicos traçados por Bolsonaro entre sua trajetória e a de Trump, mas não têm relevância jurídica. Os registros foram produzidos antes da condenação de 27 anos e três meses imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, por isso, não foram incluídos em nenhum dos inquéritos em curso.
Os documentos também não se relacionam com as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado ou sobre a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, caso em que o ex-capitão foi indiciado, mas não denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Prisão domiciliar
Durante a operação de julho, a PF apreendeu documentos e o celular de Bolsonaro, determinando o uso de tornozeleira eletrônica e o cumprimento de horários fixos para saída e retorno à residência.
Pouco depois, em 4 de agosto, o ex-presidente foi novamente alvo de uma operação, que apreendeu um novo aparelho celular e acrescentou prisão domiciliar às medidas cautelares.
Bolsonaro está nesse regime desde agosto e teve recentemente o pedido de revogação das restrições negado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. As medidas estão vinculadas ao caso em que Eduardo Bolsonaro foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.