
A Avenida Faria Lima, em São Paulo, epicentro do mercado financeiro brasileiro, amanheceu nesta quinta-feira (28) tomada por policiais federais, militares, promotores do Gaeco e fiscais das Receitas Estadual e Federal. A movimentação integra a Operação Carbono Oculto, considerada a maior já realizada contra a infiltração do crime organizado na economia formal do país.
A ofensiva mobilizou 1.400 agentes em dez estados, cumprindo 200 mandados de busca e apreensão contra 350 alvos ligados ao domínio da cadeia de combustíveis. Só na Faria Lima, 42 empresas, corretoras e fundos de investimentos em cinco endereços estão na mira.
O foco das investigações é o Primeiro Comando da Capital (PCC), que, segundo as autoridades, teria se infiltrado em distribuidoras, postos e até em fundos do mercado financeiro.
De acordo com os investigadores, a principal instituição de pagamentos suspeita, o BK Bank, movimentou R$ 17,7 bilhões em operações consideradas irregulares. A Receita Federal calcula que o esquema sonegou R$ 1,4 bilhão em tributos federais.
🇧🇷 PCC é alvo da maior operação contra o crime organizado já realizada no Brasil.
A facção teria controle de R$ 30 bilhões em fundos da Faria Lima e também sobre parte da cadeia de combustíveis com adulteração, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.
A ação cumpre 200 mandados… pic.twitter.com/lzEeQvASNu
— Eixo Político (@eixopolitico) August 28, 2025
Entre os alvos também está uma empresa listada na B3 (Bolsa de Valores brasileira), a Reag Investimentos. É uma das maiores gestoras independentes do país — ou seja, sem ligação com um banco. Seu principal foco é a gestão de recursos e de patrimônio.
O CIRA/SP pediu à Justiça bloqueio de bens para recuperar quase R$ 7,7 bilhões de impostos estaduais sonegados. As fraudes envolveriam adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas e estelionato.
Os alvos principais são os empresários Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Loco, e Mohamad Hussein Mourad, do antigo grupo Aster/Copape. Segundo o Gaeco e a Polícia Federal, eles se associaram ao Grupo Refit (ex-Manguinhos), do empresário Ricardo Magro, ex-advogado do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB). O objetivo seria expandir o controle sobre etanol, gasolina e diesel, com uso de empresas de fachada e ligação com operadores ligados a Marcola, líder do PCC.

As medidas judiciais já determinaram a indisponibilidade de quatro usinas de álcool em São Paulo, cinco administradoras de fundos, cinco redes de postos com mais de 300 endereços e 17 distribuidoras de combustível. A lista inclui ainda transportadoras, terminais portuários e refinadoras.
Outro braço do esquema seria a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR), com o desvio da carga para adulterar gasolina em postos e distribuidoras, o que teria gerado lucros bilionários à organização criminosa.
O setor de combustíveis movimenta cifras expressivas no Brasil: responde por 10% do PIB nacional, gera 1,6 milhão de empregos e arrecada R$ 130 bilhões em tributos por ano.
O domínio desse mercado pelos investigados permitiu ampliar não só os ganhos econômicos, mas também a influência política, com financiamento de lobistas em Brasília. Só na capital paulista, a operação atinge 21 endereços, incluindo fundos imobiliários e de investimento.
Após terem licenças cassadas pela ANP na Operação Cassiopeia, em 2024, Mourad e Beto Loco teriam usado novas distribuidoras para manter o controle do setor. Empresas como a Arka Distribuidora e a TLOG Terminais, criadas no Rio, teriam sido integradas ao Grupo Manguinhos, criando “camadas de ocultação” do patrimônio.
Investigações apontam ainda que distribuidoras vinculadas ao grupo compartilham estrutura e apresentam o mesmo capital social, levantando suspeitas de uso de interpostas pessoas para blindar os verdadeiros donos.
Entre as empresas ligadas ao esquema está a Duvale Distribuidora, que teria emitido procuração para Daniel Dias Lopes, condenado por tráfico internacional de drogas. O elo com criminosos já investigados pela PF em outras operações reforça a tese de que parte do setor de combustíveis servia de canal para lavar dinheiro do PCC.
Segundo os investigadores, a rede construída por Mourad e seus sócios conectava distribuidoras, postos e usinas em São Paulo e Goiás, formando um cartel capaz de influenciar preços e abastecimento. A PF e o Gaeco sustentam que o objetivo final era criar um império econômico, blindado no mercado financeiro e sustentado pelo capital ilícito.
