PF: Mauro Cid tenta blindar Braga Netto e Bolsonaro, jogar culpa em ex-ajudante

Atualizado em 20 de novembro de 2024 às 17:16
Braga Netto e Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

A Polícia Federal (PF) segue aprofundando as investigações sobre a tentativa de golpe que visava manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas urnas em 2022. Integrantes da corporação indicam que Mauro Cid, ex-braço direito do ex-presidente, tem desempenhado um papel crucial ao blindar o general da reserva Braga Netto, considerado uma peça central na trama golpista. Do blog da Andréia Sadi, no G1.

Investigadores acreditam que Cid tem dificuldade em revelar informações sobre Braga Netto devido à deferência por parte do ex-ministro, em função da hierarquia militar. Braga Netto, um dos nomes mais influentes no governo Bolsonaro, foi ministro da Defesa e da Casa Civil, além de candidato a vice-presidente na chapa derrotada em 2022.

Durante a operação Contragolpe, deflagrada pela PF em 19 de setembro, quatro militares e um policial federal foram presos por envolvimento em um plano para assassinar o presidente eleito Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

A operação revelou que ele teria participado de uma reunião de planejamento do assassinato, realizada em sua própria casa, em 12 de novembro de 2022. De acordo com a investigação, o plano de golpe envolvia a criação de um gabinete de crise, com Braga Netto e o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), no comando.

Apesar de não ser alvo direto da operação de terça-feira, Braga Netto segue sendo investigado pela tentativa de golpe. Em março de 2023, ele teve o celular apreendido pela PF, e mensagens obtidas mostraram críticas ao comandante do Exército, Freire Gomes, por não apoiar a ação golpista.

Enquanto as investigações avançam, aliados de Bolsonaro afirmam que o ex-presidente tem como estratégia jogar toda a responsabilidade pelos atos golpistas sobre Mauro Cid. Bolsonaro tenta reforçar a ideia de que, caso haja qualquer irregularidade, ele não tinha conhecimento dos planos criminosos.

Mauro Cid. Foto: Divulgação

Em mensagens obtidas pela PF, um dos presos na operação, o general da reserva Mário Fernandes, relatou que, em uma conversa com Bolsonaro, o ex-presidente indicou que qualquer ação contra Lula ainda seria possível após a diplomação do novo presidente, agendada para 12 de dezembro de 2022. “Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro”, afirmou Bolsonaro, segundo o relato.

Cid, apesar de se tornar delator, continua resistindo a entregar todas as informações que sabe, especialmente sobre a participação de Braga Netto e outros militares no golpe. Investigadores acreditam que a lealdade a Bolsonaro e à hierarquia militar seja o motivo de Cid não revelar completamente os detalhes sobre o envolvimento de outros membros das Forças Armadas no planejamento do golpe.

“Eu devo ser a pessoa que mais sabe o que aconteceu”, afirmou Cid, antes de ser preso, em março de 2023, revelando seu profundo envolvimento nos eventos dos últimos quatro anos. A operação também tem implicações para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que busca transferir para a reserva, sem remuneração, os militares que decidirem disputar eleições, independentemente do resultado.

Para ministros do STF, a prisão de militares envolvidos no golpe pode impulsionar a aprovação da PEC. A medida, que ainda encontra resistência no Senado, visa garantir a independência das Forças Armadas e impedir que militares de alta patente se envolvam em questões políticas.

Em resposta aos planos de golpe, membros do STF expressaram preocupação com a participação de militares de alta patente. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, alertou sobre a gravidade da situação, destacando o risco que o país correu ao se aproximar de uma crise institucional. Gilmar Mendes, decano da Corte, também criticou a atuação de oficiais das Forças Armadas na tentativa de golpe, apontando que a ação é “completamente danosa para a própria democracia”.