Piadas com Coronavac repercutem no Congresso e deputados cobram explicações de Bolsonaro

Atualizado em 11 de novembro de 2020 às 11:15

Publicado na Rede Brasil Atual

Presidente Jair Bolsonaro Foto: SERGIO LIMA / AFP

Deputados da oposição querem esclarecimentos detalhados sobre as circunstâncias em que os testes com a vacina Coronavac foram suspensos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na noite desta segunda-feira (9). Hoje, o presidente fez chacota com o imunizante desenvolvido pela China em parceria com o Instituto Butantan. Em resposta a um seguidor no Facebook, disse que a vacina “causa morte, invalidez e anomalia e que afirmou que teria ‘ganho’ mais uma disputa. O presidente, além de indiretamente festejar a morte de mais um brasileiro, limitou-se mais uma vez a politizar a grave crise de saúde pública, num ataque direto ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O deputado estadual Alexandre Padilha (PT-SP) pediu à comissão externa da covid-19 da Câmara, da qual ele faz parte, que convoque representantes da Anvisa e do Ministério da Saúde para dar explicações sobre os cuidados no acompanhamento dos estudos das vacinas. “Foi absurda a postura do presidente Bolsonaro de fazer chacota com vacina e sapatear sobre a morte de um voluntário. Há novas informações de que o evento grave aconteceu em 29 de outubro. E só depois de 10 dias é anunciada a suspensão do estudo”, disse o parlamentar.

Padilha avalia como “muito grave” a suspensão dos testes sem troca de informações entre a Anvisa e o Instituto Butantan sobre os motivos do óbito, sem relação com a Coronavac. “As desculpas burocráticas sobre acesso à informação não estão a altura da urgência e da responsabilidade que é o desenvolvimento e acompanhamento de estudos para uma vacina para a maior pandemia desse século, para salvar vidas e recuperar a economia”.

O parlamentar quer que o governo e a Anvisa esclareçam sobre os procedimentos de avaliação de estudos que estão sendo adotados, bem como o fluxo de informações. “A Anvisa e o Ministério da Saúde têm de explicar, com transparência, todas essas atitudes. E precisamos repreender mais uma vez a postura absurda de Bolsonaro, que fez chacota sobre a vacina e sapateou sobre a morte de um voluntário.”

Circunstâncias

O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) solicitou que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, sejam convocados para explicar as circunstâncias da suspensão dos testes da Coronavac. O objetivo é que o Congresso possa averiguar se houve eventual interferência política na autarquia. “É estarrecedor que o presidente da República venha a público nas redes sociais comemorar a morte de um voluntário e um suposto fracasso de uma vacina destinada a enfrentar uma pandemia tão terrível”, disse Molon.

O parlamentar também criticou a Agência. “É também inaceitável que a Anvisa se preste ao papel de fazer parte deste jogo político baixo.

Impeachment de Bolsonaro

O uso político do tema, marcado pela rejeição da vacinação e pela vacina Coronavac, foi duramente criticado pelo ex-ministro da Educação e presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA), Aloizio Mercadante.

Em entrevista ao Diário do Centro do Mundo, ele criticou o proveito que Bolsonaro tenta tirar da suspensão dos testes de uma vacina que tem se mostrado segura. “Ele está construindo uma narrativa para o impeachment nesse episódio da vacina. Ele claramente vem obstruindo e prejudicando que o Brasil tenha a vacina.  Nós somos 220 milhões de pessoas, algumas vacinas exigem duas doses, ou seja, nós vamos precisar de 440 milhões de vacinas e o tempo para produzir é extremamente escasso”, disse.

“Do meu ponto de vista, ele cometeu crime de responsabilidade”, afirmou Mercadante.

O ex-ministro disse também que o preço dos imunizantes são muito diferenciados e que a chinesa é das mais baratas. “A China transfere tecnologia e não cobra royalties, alinhada com as recomendações da Organização Mundial da Saúde. E o presidente vem ‘celebrar’ que nós não temos um instrumento de defesa da vida do povo brasileiro”, criticou.