Pior que a cena do livro de Paulo Coelho queimando é ver dois idosos tão à vontade na canalhice fascista

Atualizado em 29 de setembro de 2020 às 19:28
Idosos queima livro de Paulo Coelho

Pior que a cena do livro de Paulo Coelho queimando numa churrasqueira, no vídeo que viralizou pela inspiração nazista, é ver o casal de velhos se lambuzando na barbárie.

São dois gaúchos ainda não identificados, filmados por uma delinquente que passa todo o tempo instigando os baixos instintos dos personagens.

A idosa chama o escritor de “filho da puta”.

O fulano que parece ser seu marido, um bigodudo submisso, define Coelho como “lesa-pátria” (?!?) e reclama que ele não é “patriota”.

“Canalha, petista, comunista dos infernos…”, diz ela.

“O capeta tá te esperando lá”, devolve o veterano.

Eu já escrevi aqui e repito: o bolsonarismo sequestrou nossos anciãos.

Em “Um Conto de Natal”, a história da redenção de um velhote mesquinho visitado por três fantasmas, Charles Dickens escreve que “a escuridão era barata, por isso Scrooge gostava dela”.

Perdemos uma geração para o ressentimento.

Foram-se o respeito, o decoro, a educação, o verniz social, até mesmo a hipocrisia.

A regra é ser grosso, inconveniente e insultuoso, de preferência em lugares públicos e diante das câmeras

Pessoas de idade se comprazem em ser escrotas.

Cospem no chão, coçam o saco, se encaminham para a morte indignamente louvando o “mito” e tomando cloroquina ou se aplicando ozônio no ânus.

Nelson Rodrigues era um cultor da velhice.

Declarava-se uma “múmia, com todos os achaques das múmias”. Recomendava aos jovens: “envelheçam”.

Aquele país desapareceu.

Os velhos brasileiros precisavam de luz e calor, hoje vivem de trevas.