
Pior que a cena do livro de Paulo Coelho queimando numa churrasqueira, no vídeo que viralizou pela inspiração nazista, é ver o casal de velhos se lambuzando na barbárie.
São dois gaúchos ainda não identificados, filmados por uma delinquente que passa todo o tempo instigando os baixos instintos dos personagens.
A idosa chama o escritor de “filho da puta”.
O fulano que parece ser seu marido, um bigodudo submisso, define Coelho como “lesa-pátria” (?!?) e reclama que ele não é “patriota”.
“Canalha, petista, comunista dos infernos…”, diz ela.
“O capeta tá te esperando lá”, devolve o veterano.
Eu já escrevi aqui e repito: o bolsonarismo sequestrou nossos anciãos.
Em “Um Conto de Natal”, a história da redenção de um velhote mesquinho visitado por três fantasmas, Charles Dickens escreve que “a escuridão era barata, por isso Scrooge gostava dela”.
Perdemos uma geração para o ressentimento.
Foram-se o respeito, o decoro, a educação, o verniz social, até mesmo a hipocrisia.
A regra é ser grosso, inconveniente e insultuoso, de preferência em lugares públicos e diante das câmeras
Pessoas de idade se comprazem em ser escrotas.
Cospem no chão, coçam o saco, se encaminham para a morte indignamente louvando o “mito” e tomando cloroquina ou se aplicando ozônio no ânus.
Nelson Rodrigues era um cultor da velhice.
Declarava-se uma “múmia, com todos os achaques das múmias”. Recomendava aos jovens: “envelheçam”.
Aquele país desapareceu.
Os velhos brasileiros precisavam de luz e calor, hoje vivem de trevas.
Desmonetizaram o Paulo Coelho pic.twitter.com/7s35bR2aYm
— Patriota01🇧🇷🇺🇸 (@andresantos2020) September 29, 2020