“Piranha”: o insulto de Nikolas é escárnio contra todas as mulheres brasileiras. Por Nathalí

Atualizado em 31 de outubro de 2025 às 17:03
Nikolas usando peruca na Câmara para atacar mulheres trans

“Piranha”.

Foi assim que o deputado Nikolas Ferreira se referiu a uma cidadã do país em que ele figura como deputado federal.

O contexto:

A mulher postou que Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes, primo do deputado, foi preso em flagrante em maio deste ano, quando transportava cerca de 30,2 kg de maconha e 3,82 g de cocaína.

A prisão foi posteriormente convertida em preventiva pela Justiça.

Como todo covarde, Nikolas declarou publicamente que “quem é preso com drogas merece cadeia” — o famigerado “tirar o seu da reta”.

E aí fica parecendo que gente podre como ele realmente se importa com justiça.

Post em que Nikolas xinga mulher de “piranha”

Deputado, se o senhor se importasse com justiça, não seria do partido de um presidiário.

E só pra lembrar: transfobia também é crime, portanto, se este fosse um país sério, você estaria na cadeia.

Outro ponto é que, ao chamar uma cidadã de “piranha”, você cospe na cara do decoro parlamentar, que você tem obrigação de respeitar.

Decoro, aliás, não é o forte de Nikolas; pelo contrário, ele vive de perseguições e baixarias na internet e no próprio Congresso.

Mas o que esperar de quem usa uma peruca loira pra insultar mulheres transexuais?

O ódio de Nikolas Ferreira pelas mulheres é gratuito e nocivo — e o pior: ele não faz questão de esconder, porque tem total certeza da impunidade.

É isso que chamamos de machismo institucional: quando a misoginia é normalizada a ponto de um deputado ter coragem de injuriar uma mulher na internet ou mesmo no Congresso Nacional.

Não é exagero dizer que a família Ferreira está bem servida no que se refere a criminosos, mas só o primo pobre vai pra cadeia. A diferença, no entanto, é que os crimes de Nikolas são aceitos e televisionados.

Em um país que tolera criminosos no poder, não há justiça — há conveniência pra quem tem as costas quentes.

Que o deputado patético seja investigado e julgado — porque, pra ele, existe ampla defesa em um país que mata gente preta como se houvesse pena de morte no Brasil (porque, na prática, há).

Então, meu querido, sim, quem é pego com drogas tem de ir pra cadeia, mas quem injuria mulheres e transexuais também — e talvez seja justo que você apodreça na cadeia por mais tempo do que o seu primo pobre.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.