
A tentativa do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) de restringir a atuação da Polícia Federal (PF) nos estados provocou forte reação no governo e ocorre em meio a investigações da PF sobre corrupção e envolvimento de policiais civis de São Paulo com o crime organizado.
Diante da pressão, Derrite, ex-secretário de Segurança Pública paulista e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), recuou e decidiu manter as competências da PF no texto do relatório da Lei Antifacção.
O relator havia incluído dispositivos que limitavam o alcance da Polícia Federal em operações estaduais, o que foi interpretado como uma tentativa de blindar o governo paulista das apurações em curso. Após críticas do Ministério da Justiça e de bancadas governistas, Derrite anunciou mudanças.
PF investiga corrupção na Polícia Civil de São Paulo
O embate ocorre enquanto a Polícia Federal conduz uma série de investigações contra policiais civis paulistas por suspeita de extorsão, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. As apurações começaram após a morte do delator do PCC, Vinícius Gritzbach, assassinado no Aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024.
A investigação, iniciada para esclarecer o crime em área de competência federal, evoluiu para um inquérito sobre corrupção dentro da Polícia Civil, com base em delações compartilhadas pelo Gaeco (Ministério Público de São Paulo).
As informações apontam indícios de esquemas de propina e relações com facções criminosas, ampliando a pressão sobre o governo Tarcísio.
Entre os desdobramentos, a PF prendeu o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior e o PM Diogo Costa Cangerana, ex-segurança do governador, acusados de operar um esquema de lavagem de dinheiro por meio de fintechs.
Tensões com o governo paulista
A relação entre a PF e o governo de São Paulo se deteriorou após sucessivas operações contra policiais. Em abril, a Operação Latus Actio prendeu quatro agentes acusados de cobrar propina de influenciadores e funkeiros que divulgavam rifas ilegais nas redes sociais.
Mais recentemente, Derrite — ainda como secretário — recusou o apoio do Ministério da Justiça para investigar o assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, morto por criminosos ligados ao PCC em Praia Grande, na Baixada Santista.

Derrite recua e mantém atuação da PF contra o crime organizado
A proposta original previa alterações na Lei Antiterrorismo, mas, após as negociações, Derrite decidiu criar um novo dispositivo específico para endurecer penas contra crimes praticados por facções criminosas. O objetivo, segundo o relator, é reforçar o combate ao crime organizado sem alterar a legislação existente.
Em entrevista à imprensa nesta terça-feira (11), Derrite disse que as mudanças não representam um recuo, mas uma “estratégia” para garantir a aprovação do projeto.
Mais cedo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reuniu-se com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para discutir o projeto. Depois, Motta e Derrite se encontraram para acertar detalhes da versão final antes da votação, prevista para esta quarta-feira (12).
O texto é tratado como prioridade pelo governo e pela Câmara, que tentam construir consenso entre as bancadas. O ministro Ricardo Lewandowski afirmou que as mudanças são necessárias para evitar sobreposição de funções e garantir a autonomia da Polícia Federal em investigações de grande porte.