
O deputado Guilherme Derrite (PP-SP) tem enfrentado uma sequência de tropeços, pressões e recuos no comando do projeto Antifacção. Em apenas seis dias, o relator apresentou quatro versões diferentes do texto, ritmo que gerou críticas e reclamações até mesmo de aliados de Jair Bolsonaro (PL). Com informações do Globo.
Derrite foi escolhido relator por indicação do PP, mas sua nomeação desagradou o governo. O parlamentar sequer foi chamado para uma reunião entre o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Desde sexta-feira — quando assumiu a relatoria — o deputado só não apresentou novas versões durante o fim de semana. Ainda assim, o texto mais recente continua sem apoio unificado e enfrenta críticas de todos os lados.
Aliados pedem adiamento e reclamam de problemas no texto
Mesmo parlamentares do campo bolsonarista afirmam que o relatório não está pronto. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), pediram que a votação fosse adiada. Castro reforçou: “não interessa em nada aprovar uma proposta que vai ficar parada no Senado ou ser considerada inconstitucional”.
Em reunião com deputados do PSD, Derrite ouviu reclamações de que o relatório comprometia o financiamento da Polícia Federal. Laura Carneiro (PSD-RJ) e Aluísio Mendes (Republicanos-MA) cobraram mudanças para evitar que a PF ficasse com a verba em risco.
Pressão do governo
Durante conversas com o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Manoel Carlos de Almeida Neto, e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o Planalto apontou falhas em vários pontos do texto — entre eles, a situação da PF, o prazo do perdimento de bens e a sobreposição de legislações.
Derrite apresentou a quarta versão do relatório, mas o governo avaliou que nenhuma das demandas foi atendida plenamente.
A questão da PF teve três tentativas de ajuste, mas nenhum consenso foi alcançado. Na segunda-feira, Derrite e Motta conversaram com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e anunciaram um acordo. No entanto, após a publicação da versão revisada, técnicos apontaram que ainda havia brechas para reduzir o protagonismo da PF em favor das forças estaduais.
Na terceira versão, Derrite retirou trechos que subordinavam a PF aos estados, mas criou problema adicional ao não definir claramente como as verbas seriam destinadas à corporação. A quarta versão corrigiu um ponto, mas o governo afirma que outro fundo ainda precisa ser citado.

O acordo inicial articulado por Motta também previa equiparar as penas aplicadas às facções às penas do terrorismo — tentativa de acenar à oposição sem classificar formalmente as facções como terroristas.
Mas a proposta gerou forte reação. Governistas iniciaram uma campanha nas redes sociais contra Motta e Derrite, argumentando que a mudança poderia gerar risco de intervenção estrangeira, mesmo sem rotular facções como terroristas.
Com a pressão, Derrite abandonou a alteração na Lei Antiterrorismo. O recuo, porém, abriu espaço para nova ameaça: parlamentares da oposição agora querem retomar o tema por meio de destaques no plenário.
Derrite fala em “estratégia” e reclama de “guerra política”
Em evento com governadores, Derrite afirmou estar no centro de uma disputa política: “Não vamos perder essa oportunidade para priorizar uma guerra política. Temos que pensar na população que sofre as mazelas de quem vive sob o domínio do crime organizado”, disse.
Embora insista que não está recuando, o relator tem sido pressionado por todos os lados — governo, oposição, governadores e membros da própria base — enquanto o texto continua sem acordo e o desgaste se acumula.